(Carlos Henrique)
O belo-horizontino começa a sentir na pele os efeitos do corte orçamentário de R$ 3 bilhões nas receitas da prefeitura, em 2015. E o pior, em uma das áreas essenciais: a saúde. Faltam medicamentos nos postos e, segundo servidores públicos, materiais para curativo. O combate à dengue estaria comprometido pela suspensão do fumacê. No setor de zoonoses, não há kits para testes de leishmaniose em animais domésticos.
Nos centros de saúde, as farmácias estão em situação de alerta. Em cada uma das 147 unidades, falta uma média de três medicamentos de assistência básica, informa o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (Sindibel). Levantamento realizado pela instituição revela a escassez de 95 itens.
Dentre os medicamentos em falta está a Fenitonina, destinada ao controle de crises convulsivas, e a Losartana e o Atenolol (para hipertensão). “São remédios de uso comum pela população, que acaba tendo o tratamento comprometido”, diz a diretora da área da saúde do sindicato, Ângela de Assis.
EM VÃO
O aposentado Amaro Sabino, de 64 anos, tenta há um mês pegar a Sinvastatina, medicamento para controle do colesterol, no Centro de Saúde Floramar, na região Norte. Na última visita, ele encontrou a farmácia fechada. “Dependendo do problema, eles não estão liberando. Dizem que só se for em casos urgentes”, afirma.
De tanto esperar, a balconista Paula Cristina Alves, de 30 anos, viu as receitas vencerem sem antes conseguir os remédios no Centro de Saúde São Paulo (Nordeste). Nem medicamentos comuns, como Paracetamol, estão disponíveis, segundo ela, que também procurou Omeprazol, para gastrite, e Loratadina (antialérgico). “Esse posto não tem nada desde dezembro do ano passado”.
No bairro Pompeia (Leste), a situação da farmácia do centro de saúde não é diferente. Depois de três tentativas de conseguir a Fluoxetina, Cláudia Cristina da Luz Alves, de 41 anos, resolveu comprar o remédio. “Fui lá várias vezes e não tem nem previsão de chegar”.
Castração do Gato - Lucimara ficou decepcionada ao ser orientada a voltar ano que vem (Foto: Carlos Henrique/Hoje em Dia)
CRÍTICO
A carência de insumos para o atendimento da população também é outro problema nos centros de saúde, garante o Sindibel. Estaria faltando até material para fazer curativo. “Além da ausência de planejamento da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), temos a escassez de recursos”, analisa Ângela Assis.
Os agentes de endemias também estariam com dificuldade para combater a dengue. Segundo eles, existe larvicida, mas acabou o inseticida aplicado na forma de fumacê. “A informação que tivemos da gerência de saúde é a de que o produto tem um valor alto e, por isso, teve de ser cortado”, conta um agente de endemia que pediu anonimato.
A prefeitura informa que alguns processos licitató-rios para compra de medicamentos precisam ser refeitos em função da falta de matéria-prima na indústria farmacêutica, o que provoca atrasos na distribuição. Garantiu, ainda, não haver falta de insumo para curativos. Sobre o fumacê, a prefeitura informa que substituiu a técnica por outra mais eficaz.
Diagnóstico de leishmaniose é prejudicado por falta de kits que detectam a doença
O Centro de Controle de Zoonoses de Belo Horizonte enfrenta dificuldades para realizar o diagnóstico da leishmaniose em cães, doença que pode ser transmitida ao homem. Faltam kits para fazer os testes.
Segundo o Sindibel, não existe previsão para o repasse do material, de responsabilidade do Ministério da Saúde. “A orientação passada à população é a de que procure o serviço privado caso tenha alguma desconfiança a respeito de contaminação”, afirma a diretora da área de saúde do sindicato, Ângela Assis.
A castração, outro procedimento importante, só está sendo agendada para daqui a seis meses. De acordo com donos de animais de estimação, antes o tempo máximo de espera era de 60 dias.
FRUSTRAÇÃO
A dona de casa Lucimara Batista de Souza, de 43 anos, conta que só conseguiu agendar atendimento para o gato para abril do ano que vem.
“Como ele anda muito pela vizinhança, tenho medo de alguém fazer alguma coisa ruim. Se castrasse, não teríamos esse problema, pois o gato ficaria mais quieto”, disse.
Para o Sindibel, não há motivo para o aumento do tempo de espera para a castração. “Estamos verificando o motivo dessa demora na realização dos procedimentos, mas não há justificativa para tanta demora”, diz a diretora do sindicato.
RESPOSTA
De acordo com a prefeitura, os kits para a realização dos exames de leishmaniose são repassados pelo Ministério da Saúde aos estados, que os distribuem aos municípios. O repasse para o mês de agosto ocorreu na primeira quinzena de setembro.
A SMSA recebeu 1.050 testes, todos utilizados. A cota mensal é de 3.100 exames. A Secretaria de Estado da Saúde (SES) já comunicou à SMSA que no Ministério da Saúde está havendo uma dificuldade, por parte dos fornecedores, de entrega dos kits. O município informa, ainda, que está expandido o serviço de esterilização para as regionais.
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