(Ricardo Ferraz Bastos)
Após uma onda de violência registrada na última segunda-feira (26) e a restrição à circulação de ônibus, os moradores do Aglomerado da Serra, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, começam a retomar suas rotinas. Segundo informações do 22° Batalhão, o transporte coletivo e o serviço de coleta de lixo já estão sendo normalizados na região e não houve nenhum registro de problemas durante toda esta quarta-feira (28). Ainda assim, o policiamento continua reforçado no local. No fim da manhã, representantes da Polícia Militar se reuniram com moradores do Aglomerado para discutir ações de segurança na região. No encontro, que aconteceu na sede da 127ª Companhia do 22º Batalhão da PM estiveram presentes o coronel Rogério Andrade, comandante do policiamento da capital, e o coronel Antônio Carvalho, do Comando de Policiamento Especializado (CPE). De acordo com a PM, foram levantados 44 nomes de traficantes que podem estar envolvidos nos ataques a coletivos que afetaram o transporte público no complexo nos últimos três dias. Os nomes estão sendo mantidos em sigilo. Das 13 linhas de ônibus que circulam pelas vilas, três (102, 103 e 107) não rodaram nesta quarta-feira. O itinerário de nove foi alterado e só a 2151 (Vista Alegre/Serra) operou normalmente. Uma das áreas mais críticas, onde muitos dos alvos se escondem, é a Vila Marçola, perto da Praça do Cardoso. No local foi morto com um tiro na cabeça disparado por um PM, Helenílson Eustáquio da Silva Souza, de 24 anos. O autor é um sargento do Grupo Especializado de Patrulhamento em Áreas do Risco (Gepar) do 22º Batalhão, identificado como “Vítor”. O outro ponto é a Vila do Pau Comeu, perto do Parque da 3ª Água, no lado oposto à Vila Marçola. Apoio da comunidade Para erradicar o crime nessas áreas, as polícias contam com a colaboração da comunidade, parceria que foi fartamente abordada com moradores na reunião. "A população ordeira não apoia essas ações de vândalos, porque acaba ficando prejudicada, no caso de ônibus. Sabemos que existe o disque-denúncia, mas, por outro lado é a nossa vida que está em jogo. Do mesmo jeito que a polícia sabe que os bandidos são presos e saem, nós também temos consciência da mesma coisa", afirmou o líder comunitário Jackson Caetano. Uma das reivindicações da população do aglomerado para tentar reverter esse cenário é a criação do Conselho Comunitário de Segurança Pública, o Consep, formado por membros da sociedade, das polícias e dos governos estaduais e municipais. A promessa teria sido feita pelas forças policiais e governo há cerca de dois anos quando dois moradores foram assassinados por militares na Serra. Mas, segundo moradores, depois que a "poeira baixou", a proposta não saiu mais do papel. "Este canal direto com as autoridades seria uma solução para tantos problemas. Com ele poderíamos reivindicar melhorias que acabam sendo esquecidas com o passam do tempo”, alegou Jackson Caetano. "Há dois anos ficaram de tomar atitudes, não só com relação à polícia, mas com relação a outras necessidades das pessoas como projetos e prestação de serviços. Mas o Estado ainda deixou muito a desejar", disse outro morador que preferiu não se identificar. O comandante de policiamento da capital contesta a reclamação, alegando que cabe à comunidade tomar iniciativa para criar organizações como o Consep. "As pessoas tem que entender que não dependem do Estado para se organizar e cobrar do próprio Estado melhorias e fazer a sua parte. O tempo todo a PM chama para isso, para ouvir a comunidade, como o que estamos fazendo agora", justificou o coronel Rogério Andrade. Entenda como funciona o Aglomerado da Serra na edição impressa desta quinta-feira