MP se reuniu com com empresas dos setores de energia, telefonia e internet e associações de supermercados e farmácias para entender melhor a dimensão do problema e as graves consequências à população
Impactos dos roubos e furtos de cabos de energia e de transmissão de dados foram debatidos em reunião no Ministério Público (MP?Divulgação)
Nada menos que 848 mil mineiros ficaram sem acesso a serviços de telecomunicações - telefonia e internet - devido ao furto e roubo de cabos em 2023. Com exceção de Belo Horizonte, o número de pessoas prejudicadas é maior que a população de todos os outros municípios do Estado. No país, o crime causou transtornos a 7,6 milhões de brasileiros. O balanço foi apresentado pela Conexis Brasil Digital, entidade que reúne as empresas do setor, durante reunião com o Ministério Público, nessa quarta-feira (21).
Minas é o quarto no ranking nacional de estados com mais ocorrências. Foram subtraídos mais de 500 mil metros de fios, atrapalhando não só a conectividade e a comunicação, mas também o funcionamento de comércios, escolas, hospitais e repartições públicas. Para se ter uma ideia do volume levado pelos bandidos, a quantidade seria suficiente para cobrir a rota entre Belo Horizonte e o Rio de Janeiro.
Para debater as graves consequências à população, o Ministério Público organizou um encontro na Unidade de Combate ao Crime e à Corrupção (UCC), em Belo Horizonte. Segundo o promotor de Justiça Marcos Paulo de Souza Miranda, existe um interesse público em entender a complexidade da onda de casos.
“Houve um aumento dessa ocorrência em todo o estado e isso compromete a prestação de diversos serviços, como saúde e segurança pública. Um crime aparentemente inofensivo, tem, na verdade, uma gravidade enorme pelas repercussões sociais que acarreta”, disse ele, que é coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça Criminais, de Execução Penal, do Tribunal do Juri e da Auditoria Militar (Caocrim).
Além de atrapalhar serviços essenciais, o furto de cabo de energia elétrica traz riscos à segurança pública, segundo a Cemig. “Em 2022 a subestação BH Sion sofreu um incêndio. Ela foi invadida e furtada várias vezes e a necessidade de recolocar e substituir os cabos afetou o aterramento e isolamento do local, levando a um curto-circuito. O prejuízo girou em torno de R$ 20 milhões".
De acordo com a estatal, houve um aumento das ocorrências em suas usinas, subestações e instalações prediais. Entre 2021 e 2023 o número de furtos de transformadores e reguladores de tensão chegou a 280.
Além da Conexis Brasil Digital e da Cemig, participaram da reunião do MP representantes das associações Mineira de Supermercados (Amis) e da Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma).
Onda de crimes
Conforme o Hoje em Dia tem mostrado, o crime desafia as forças de segurança. Casos graves têm sido registrados nos últimos dias. Só no Hospital de Olhos Hilton Rocha - que é referência em oftalmologia -, no bairro Santa Efigênia, região Leste de BH, foram dois roubos em menos de 15 dias. Por pouco não houve um terceiro caso. Segundo representantes da unidade de saúde, a última troca do equipamento foi feita na sexta-feira (15) e, na madrugada do sábado (16), bandidos tentaram roubar o cabeamento de novo.
Novas estratégias têm sido adotadas na tentativa de barrar as ocorrências. A principal é ir atrás dos receptadores, que mantêm ativo o comércio irregular. A Polícia Civil montou uma equipe especializada em crimes virtuais para fazer varreduras em plataformas digitais e encontrar anúncios sobre a venda do produto. O trabalho começou há três meses. Na semana passada, um homem foi preso com 300 quilos de fios de cobre e chumbo.
Já a Polícia Militar disse que as ações de prevenção e repressão se mantêm constantes, com prisões recorrentes de autores. A PM reforça que as vítimas façam o registro do Boletim de Ocorrência, acionando a corporação por meio do telefone 190.
Leia mais: