Roubos e infraestrutura precária prejudicam o projeto Academia da Cidade, em BH

Malú Damázio
mdamazio@hojeemdia.com.br
26/10/2017 às 20:15.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:25
 (Pedro Gontijo/Hoje em Dia)

(Pedro Gontijo/Hoje em Dia)

Moradores de Belo Horizonte que participam do projeto Academia da Cidade reclamam das condições oferecidas em algumas unidades. Os espaços, criados para promover a melhoria da qualidade de vida da comunidade por meio de aulas gratuitas, estão desprotegidos há pelo menos um ano, quando os porteiros foram retirados.

Roubos de equipamentos, prédios vandalizados e infraestrutura precária são os principais desafios enfrentados. Em um dos locais, por exemplo, os materiais utilizados nas aulas são guardados em um depósito improvisado no centro de saúde do bairro. A medida visa evitar novos furtos.

Com o desligamento dos vigilantes, em 2015, o crescimento da violência se intensificou. A inexistência dos guardas remete a outros problemas já mostrados pelo Hoje em Dia em unidades de saúde e escolas municipais. Sem a proteção, ocorreram arrombamentos e até projetos sociais foram interrompidos.

Atualmente, são 76 academias da cidade e quase 20 mil pessoas atendidas. Cada espaço custa R$ 12 mil mensais, divididos entre a Prefeitura de BH e o Ministério da Saúde. Apreensivos, professores e funcionários evitam falar sobre a situação. Já os usuários rasgam elogios à iniciativa, mas são categóricos ao cobrar melhorias e mais segurança.

19,4 mil pessoas participam do projeto criado há 11 anos na capital 

Improviso

Um tapume e alguns pedaços de madeira foram as alternativas encontradas na academia do bairro Dom Cabral, região Noroeste. Lá, a parede de vidro foi quebrada e o espaço segue funcionando com o arranjo. As portas que dão acesso ao galpão onde acontecem as aulas também tiveram a fechadura danificada e são trancadas com correntes e cadeados.

Paredes descascadas, sujas e com infiltração e lustres sem lâmpada compõem o cenário da unidade, que recebe mais de 200 moradores do bairro. Os banheiros também são precários: faltam azulejos e os dois mictórios estão interditados, cobertos por sacolas de plástico.

Segundo a Secretaria de Saúde de BH, será criada uma outra academia em Venda Nova até dezembro deste ano. Investimento será de R$ 150 mil

Depósito improviso

Chamada de Fazendinha, a Academia da Cidade do bairro Coqueiros fica em um parque arborizado e fresco, ideal para a prática de atividades físicas. No entanto, o ambiente de lazer escancara a falta de zelo. O prédio está repleto de pichações e vidraças quebradas.

O galpão segue vazio a maior parte do tempo. Moradores da região dizem que o local se tornou bastante violento há alguns meses e muitos teriam deixado de frequentar o Centro de Vivência Agroecológica (Cevae), onde fica a academia. 

Segundo uma vizinha do parque, que pediu para não ser identificada, a academia foi assaltada diversas vezes e teve parte dos equipamentos roubados. Os que restaram agora são guardados em um depósito improvisado no Centro de Saúde Glória, que fica alguns quarteirões abaixo do Cevae. Quando há aulas, as professoras vão até lá, pegam os materiais e levam até a academia. Depois, é preciso voltar com todos os equipamentos para o posto de saúde.

Espaços são integrados aos centros de saúde da região. Por isso, muitos alunos são encaminhados pelos postos para as academias da cidade

Pedro GontijoNa tentativa de evitar novos furtos, materiais são guardados em centro de saúde

“Desde que comecei a frequentar a academia, há três anos, estou bem mais saudável. O projeto é muito bom, mas é uma pena que nossas atividades sejam prejudicadas por causa da falta de segurança” (Jaílza Rodrigues de Medeiros, aluna da unidade do bairro Ermelinda)

telhas na unidade do bairro Ermelinda

Três assaltos em sete meses é a realidade da academia do bairro Ermelinda, também na Noroeste – que está sem luz. Desde julho, usuários aguardam a reposição dos quatro metros de cabos de energia furtados. Algumas atividades foram prejudicadas, como alongamento e relaxamento, já que os professores utilizam músicas durante as aulas.

O calor também incomoda os alunos. A unidade funciona em um prédio que era usado pelo centro de saúde do bairro. A construção não é tão arejada e o espaço demanda a utilização de ventiladores. “Já vimos colegas passarem mal. Fora que é anti-higiênico. Pegamos os colchonetes e os materiais de outros alunos que usaram antes e estão encharcados de suor”, conta a aposentada Jaílza Rodrigues de Medeiros, de 68 anos.

Há quase quatro meses ela não faz a avaliação física, que depende de computadores para ocorrer. “Fico preocupada porque preciso saber como meu corpo está reagindo aos exercícios. É essencial para a minha saúde”.

Na unidade, há ainda telhas quebradas e soltas. Alunos reclamam das atividades feitas em dias de chuva e temem pelo pior. “A gente até faz aula na sala com goteiras e poças de água no chão, mas e o medo desse telhado cair em cima de nós?”, conta a operadora de caixa Elizabeth Pereira da Cruz, de 36 anos.Pedro GontijoNo Dom Cabral, mictórios estão interditados

Cabo de energia será comprado e programa expandido

Cada Academia da Cidade tem cerca de 230 usuários, que frequentam os espaços de segunda a sábado. Há horários disponíveis na parte da manhã, tarde e noite. As aulas são ministradas por profissionais habilitados em educação física.

Responsável pelo projeto, a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) informou que já está em fase de compra, pela terceira vez, dos cabos de energia da unidade do bairro Ermelinda. Um trabalho de conscientização com a comunidade em prol da preservação do espaço é oferecido aos moradores.

Ainda conforme a secretaria, o programa será expandido com uma nova inauguração até o fim do ano.

Vigilância

A Guarda Municipal destaca que dez agentes fazem o patrulhamento na região onde estão as unidades citadas. “Realizamos passagens e paradas periódicas, que duram em média de 30 a 40 minutos em sistema de revezamento”, informou o órgão.

A Polícia Militar afirma que realiza operações frequentes nas imediações, em caráter preventivo, assim como em todas as praças próximas, além de “patrulhamento nos pontos de maior incidência criminal”.

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