(Riva Moreira)
Desde que a barragem da Mina do Feijão, em Brumadinho, se rompeu e causou o maior desastre da história da cidade - com 110 mortos até o momento - Maria Nailde Martinha de Jesus Fonseca, de 51 anos, passa o dia e à noite tentando domar o próprio medo.
A faxineira aposentada que mora de aluguel com o marido em um barracão simples, às margens do Rio Paraopeba, teve paralisia infantil aos dois anos, quando ainda morava com a família em Nanuque, município em que nasceu, no Norte de Minas.
Desde então, usa cadeira de rodas e sofre com as dificuldades de locomoção em uma cidade que nem de longe foi planejada levando em consideração as necessidades das pessoas com mobilidade reduzida.
Pânico
A angústia se torna maior quando a senhora pensa no risco de cheia do rio. No último domingo (27), quando a sirene anunciando o risco de rompimento de uma segunda barragem tocou às 5 horas da manhã, ela viveu momentos de desespero.
“Saí rastejando pela escada, pra conseguir chegar lá na rua e achei que ia perder tudo”, conta com semblante assustado. O risco de um novo desastre foi descartado horas depois pela Defesa Civil, mas não acalmou o coração de Maria Nailde.
Desde então, ela não conseguiu mais dormir à noite e passa a maior parte do dia atenta a qualquer sinal que possa indicar outro rompimento. “Se essa lama chegasse até aqui a gente estaria perdido”, diz a mulher.
Sem alternativa de moradia, Maria Nailde se apega à fé para não pensar no pior. “É Deus mesmo que protege a gente, porque não posso sair daqui, não tenho pra onde ir”, lamenta.