(Renato Fonseca)
Pelo menos uma árvore de grande porte deixa de existir, diariamente, em Belo Horizonte. Só nos últimos dez meses, 300 foram suprimidas após serem atacadas pelo besouro metálico. A praga urbana ainda pode ameaçar outros exemplares, já que os trabalhos de vistoria não foram finalizados.
As espécies mais atacadas são munguba, paineira, barriguda, embaré e imbiruçu, segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA). O problema é a larva do besouro, que mede até 12 centímetros. Ela come o miolo da árvore e as raízes. Em seguida, as árvores ficam frágeis e há risco de queda.
Um exemplo da perda de arborização devido à presença do inseto pode ser visto na rua Diabase, no bairro Prado, Oeste da capital. Só em um trecho da via com menos de 100 metros, 12 árvores foram cortadas. A mesma ação ocorreu recentemente em ruas dos bairros Anchieta e Cruzeiro, na região Centro-Sul de BH.
Desde setembro do ano passado, mais de 3 mil árvores foram vistoriadas por técnicos da SMMA. Em muitos casos, a única alternativa foi a supressão. “Para a árvore que já teve o tronco degradado, não tem jeito. O melhor a fazer é a retirada, porque oferece risco. A prefeitura tem estudado algumas alternativas, mas o controle manual do besouro também vai evitar que novas árvores sejam infectadas”, explica a engenheira florestal da Cemig Marina Moura de Souza.
Ela salienta que a legislação brasileira não permite que produtos químicos sejam utilizados para controlar pragas no ambiente urbano. Mesmo que fosse possível, seriam necessários novos estudos para definir as ações.Flávio Tavares / N/A
Motivos
Para o professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, João Renato Stehmann, um dos fatores que contribuiu para que a infestação se alastrasse foi o manejo equivocado. Segundo ele, a arborização da cidade não recebeu o tratamento adequado no passado.
“A infestação se dá por rachaduras nos troncos. A gente está pagando o preço pelas podas indiscriminadas”, avalia.
Outro problema citado pelo professor é que as árvores são cortadas, mas o toco do tronco e a raiz permanecem.
“A questão é que tem um custo para retirar o tronco, tem que trazer uma máquina. A remoção e a eliminação das larvas que estão nesse tronco é importante para evitar a contaminação de outras árvores”, explica.
Já o biólogo da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), Francisco Mourão Vasconcelos, reforça que é fundamental diversificar as espécies plantadas na capital.
Além disso, ele cobra que a prefeitura invista em pesquisa, em parceria com universidades, para encontrar novas soluções, evitando a derrubada.
Sem resposta
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente foi procurada pela reportagem para responder algumas questões relacionadas às árvores suprimidas. No entanto, a pasta não retornou até o fechamento da edição desta qquarta-feira (12). Veja as questões sem resposta:
– Quando uma árvore é infectada pelo besouro metálico, há outra solução que não seja a poda completa?
– Quais medidas a PBH/Secretaria de Meio Ambiente têm feito para impedir a proliferação do besouro?
– É possível enviar os laudos que atestaram que as árvores cortadas estavam condenadas?
– Por que as árvores cortadas não são retiradas pela raiz, e no lugar plantada outra árvore? Há alguma limitação para que a raiz não seja retirada?
– Nos locais onde foram cortadas as 300 árvores, recentemente, outras já foram plantadas?
– Qual a atual situação do inventário das árvores de BH? Quantas catalogadas? Quantas pertencentes à família bombacaceae, conhecidas como munguba, paineira, barriguda, embaré e imbiruçu, que são as espécies mais atacadas pelos besouros metálicos?
– Quantas árvores foram suprimidas em função da mosca-branca em BH? Foram apenas os fícus ou a praga atingiu outras espécies? A mosca branca foi erradicada em BH?Flávio Tavares / N/A
Árvores foram podadas uma atrás da outra em rua do Prado
Além Disso
Inaugurada em 1897, a capital mineira ficou conhecida, nacionalmente, como “Cidade Jardim”. Conforme o artigo “À sombra dos fícus: cidade e natureza em Belo Horizonte”, da professora do Departamento de História da UFMG, Regina Horta Duarte, em 1930 houve a primeira poda dos fícus da avenida Afonso Pena. Mas foi na década de 1960 que as espécies foram suprimidas. Primeiro, na Praça 7 em 1962 e, depois, no restante da avenida.
A justificativa para o corte foi um inseto chamado tripe. Na época, houve muita polêmica. Quem se opunha à medida acusou a prefeitura de ter “plantado” os insetos para retirar as árvores e aumentar a largura das pistas da avenida.
Outros cortes de árvores que ganharam repercussão ocorreram em 2014. Os fícus centenários das avenidas Bernardo Monteiro e Barbacena, na região Centro-Sul, foram atacados pela mosca-branca. Dezenas de árvores foram podadas ou mesmo suprimidas. A administração municipal tentou utilizar um inseticida natural, chamado Neem, mas não houve sucesso.