Um visitante do Museu de Ciências da Terra, no Rio de Janeiro, pode não perceber. Mas a coleção de folhas fósseis encontradas na região Central de Minas nas décadas de 30 e 60 guarda uma riqueza histórica que não pode ser medida apenas pelos olhos. Coletada em bacias sedimentares, dá pistas de como eram o clima e a vegetação há 30 milhões de anos na extensa área onde hoje estão as serras do Gandarela e Caraça.
As evidências dão conta de que o local onde atualmente predomina o Cerrado e que guarda resquícios de Mata Atlântica pode ter sido uma espécie de “Amazônia mineira”.
A constatação é do biólogo Jean Carlo Mari Fanton, que estudou 64 fósseis de folhas de 25 tipos de plantas angiospermas para a tese de doutorado “Reconstruindo as antigas florestas tropicais úmidas de Minas Gerais”, pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“Os fósseis são como ferramentas para tentar reconstituir o passado. Na análise, vi que as folhas eram grandes, com margens lisas e ápice em forma de pingadeira, características semelhantes às da floresta Amazônica”, afirma. Lupas e microscópios revelaram mais: a presença de pelos e glândulas, por exemplo, pode ser interpretada como uma defesa da planta contra insetos muito abundantes em selvas fechadas.
Outra descoberta é que as árvores “do passado” compartilham ancestrais com diversas espécies que povoam a Mata Atlântica. Indício de que a extinta floresta quente e úmida pode ter sido a precursora desse bioma.
Transformação
Mudanças climáticas e no relevo são apontadas como as grandes responsáveis pela alteração na paisagem.
As chuvas eram constantes e as frentes frias chegavam com menos força porque não havia gelo no continente Antártico. Estima-se que a temperatura era de 28ºC, bem maior do que a média atual, que varia de 17ºC a 22ºC nas serras. “Hoje, as estações secas e chuvosas são mais marcadas, e o Cerrado responde melhor a essa sazonalidade climática. Uma floresta semelhante à Amazônia não resistiria a um clima assim”.
A conclusão sustentada por Jean Carlo é apenas um dos vários segredos sobre a região. “Em termos de fósseis, essa é uma área muito promissora, com grande potencial paleontológico, mas pouco estudada”.