Setor de eventos se preocupa com exigência dupla de vacina teste negativo e prepara carta para PBH

Bernardo Estillac
bernardo.leal@hojeemdia.com.br
27/01/2022 às 21:39.
Atualizado em 30/01/2022 às 01:07
 (Léo Pedone/Divulgação)

(Léo Pedone/Divulgação)

Profissionais do setor de eventos querem que o prefeito Alexandre Kalil (PSD) desista do decreto que traz novas exigências para a realização de eventos na capital. A medida anunciada nesta quinta-feira (27) prevê a cobrança da apresentação do cartão de vacinas e teste negativo para Covid-19 em Belo Horizonte. 

A decisão da PBH foi tomada em meio ao aumento nos índices da pandemia na capital e começará a valer na próxima segunda-feira (31). Ela altera as regras em vigor hoje de que, para ir a eventos na capital mineira, é necessário apresentar ou o comprovante de duas doses de vacina ou um teste negativo para a Covid, não os dois juntos. 

O setor foi um dos que mais sofreu com as medidas de isolamento social adotadas para evitar a disseminação do coronavírus, no ano passado, quando ainda não havia a vacinação contra a Covid. E comemorou a flexibilização, com a queda do número de casos. Agora, representantes do segmento preparam carta com reivindicações ao município.

A forma como as regras sanitárias são aplicadas atualmente é vista como ideal para a vice-presidente do Sindicato das Empresas de Promoção, Organização e Montagem de Feiras, Congressos e Eventos de Minas Gerais (Sindprom-MG), Karla Delfim.

“Durante dois anos a prefeitura colocou a ciência como prioridade, então a vacina precisa ser a solução. Está comprovado que mais de 80% das pessoas hospitalizadas não são vacinadas ou só têm a primeira dose, a vacina é eficaz. Se você quiser cobrar o teste, cobre de quem não tem o cartão de vacina. Já que o Brasil não obriga, tudo bem, é direito não vacinar. Então, que faça o teste e vá ao evento sem prejudicar os outros”, avalia.

Karla acredita que a exigência dupla pode impedir a realização dos eventos tanto por torná-los mais caros, como pela preocupação dos organizadores com a falta de testes disponíveis para a população.

“Se cobrar o teste de todo mundo você vai inviabilizar o evento de todo mundo. Imagine que uma peça de teatro que custa R$ 100 o ingresso, vai custar mais que o dobro porque o teste vai ser ainda mais caro. Uma noiva que vai pagar o teste de todos os convidados do casamento vai acabar gastando mais com isso do que com o buffet. Isso também porque não há testes disponíveis nos laboratórios”, exemplifica.

A visão de Karla é corroborada pelo líder do governo na Câmara de Vereadores de BH, Léo Burguês (PSL). O parlamentar se encontrou com representantes do setor de eventos nesta quinta-feira (27) e, em suas redes sociais, concordou com a opinião de que apenas comprovante de vacina ou teste negativo é suficiente.

Nesta sexta-feira (28), um fórum formado por 17 entidades do setor de eventos enviará uma carta à prefeitura com o objetivo de persuadir o executivo a voltar atrás nas medidas divulgadas na quarta (26) antes de sua efetivação.

A vice-presidente do Sindprom-MG está otimista diante da possibilidade de ser ouvida por Kalil. Ela acredita que a nova regra para participação em eventos foi pensada para evitar aglomerações no Carnaval.

“Na minha visão, ele (Alexandre Kalil) fez isso pensando nas festas privadas de carnaval. O problema é que está prejudicando a cadeia inteira. Congressos e feiras estão sendo cancelados para março e abril; tem feiras em setembro que já estão pensando em sair de BH”, conta Karla, que reitera que o setor sempre teve canal de diálogo aberto com o prefeito, o secretário de Saúde Jackson Machado e o Comitê de Enfrentamento à Covid da capital. 

No último trimestre de 2021, o setor de eventos ensaiou um retorno à ativa após quase um ano e meio paralisado. No Brasil, o segmento teve entre 40% e 50% de sua capacidade em funcionamento, segundo Karla Delfim. A previsão era de que o mercado nacional voltasse a operar completamente no segundo semestre de 2022 e a preocupação é que BH não consiga acompanhar a expectativa.

Contudo, a apreensão não é unanimidade no setor. Há quem não perceba a nova medida sanitária de Belo Horizonte como um problema significativo para os negócios. A diretora-executiva da Casa Bernardi, Alice Feitosa, afirma que o espaço já trabalha de acordo com o protocolo de exigência dupla. 

“A gente não vai ser afetado porque, desde o ano passado, quando os protocolos da prefeitura já estavam exigindo isso, nós mantivemos. Então, aqui nos nossos eventos, a gente sempre aconselha as noivas a solicitarem aos convidados o comprovante de vacina, o teste negativo; algumas noivas pagam para os seus próprios convidados” disse a diretora da casa na zona Sul da capital.

Posição do Comitê de Enfrentamento à Covid

Ainda que exista a perspectiva de que a prefeitura não coloque a exigência de teste negativo e vacinação contra a Covid em prática, a postura do infectologista Unaí Tupinambás, membro do Comitê de Enfrentamento à Covid de BH, é bastante firme em relação à participação em eventos neste momento.

“Não é o momento de ir a festivais, festas e shows. Mesmo estando com três doses você pode se infectar[...] A gente tem que evitar esses eventos superespalhadores, caso contrário, vai aparecer outra variante que pode ser tão problemática quanto (a Ômicron)”, disse em entrevista coletiva na sede da Prefeitura de BH, na quarta-feira (26). 

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