(Maurício Vieira)
A falta de insumos básicos e de recursos para custear os atendimentos colocam a principal maternidade do Estado à beira do precipício. Se em um mês não houver um socorro financeiro, o Sofia Feldman, na região Norte da capital, fechará metade dos leitos de UTI neonatal, o equivalente a 20 vagas, uma parte das 60 na Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) e a Casa da Gestante, onde grávidas de risco ficam hospedadas até o parto. Em outubro, 200 nascimentos já poderão deixar de acontecer no hospital.
A interrupção de serviços pode impactar a assistência às mulheres em Belo Horizonte, onde apenas sete maternidades atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em toda a capital, são 144 leitos de UTI neonatais. Caso sejam fechadas as vagas do Sofia, serão perdidos 13% dos espaços disponíveis para receber gratuitamente recém-nascidos em risco.
No interior
Problemas também podem ser enfrentados por mulheres que vivem no interior do Estado e buscam socorro na maternidade. Duzentos municípios com população inferior a dez mil habitantes deixarão de ser atendidos. “Sem mais recursos, o foco de atendimento passará a ser a capital e a região metropolitana. Não teremos condição de receber grávidas de outras cidades”, afirma o diretor técnico e administrativo da unidade de saúde, Ivo Lopes.
Para a assessora de Saúde da Associação Mineira de Municípios (AMM), Juliana Marinho Diniz, o resultado pode ser um colapso na área pelo interior. Ela explica que as cidades sem UTI neonatal terão que recorrer a outros hospitais que recebam seus pacientes. “Vários deles estão em crise financeira. Então será uma negociação longa. Enquanto isso, muito bebê pode morrer”, lamenta.
Apreensão
Possibilidade que assusta gestantes como Franciele Aparecida da Cruz, de 22 anos. Ela saiu de Itamarandiba, no Vale do Jequitinhonha, para salvar a gravidez de oito meses. Quando passou mal na cidade, onde não há UTI neonatal, foi encaminhada para a Casa da Gestante no Sofia Feldman. “Tive eclâmpsia na minha primeira gravidez, há três anos, e sofri muito com a falta de estrutura por lá”.
Agora, Franciele tem a segurança de ficar hospedada no local, anexo à maternidade, com aparato médico que o momento exige. As pacientes recebem assistência de uma equipe multidisciplinar, inclusive com acompanhamento com psicólogos e serviço social. O que faz toda diferença para a belo-horizontina Caroline Stefane da Silva Carvalho, de 28 anos, que está na casa de apoio há uma semana. Grávida de sete meses, ela teve detectada a baixa do líquido amnióti-co e foi encaminhada para o local onde recebe o apoio necessário.
Déficit
A Casa da Gestante é um dos serviços em risco de fechamento. Atualmente, a maternidade opera com um déficit mensal de R$ 2,2 milhões. Parte do montante é fruto do pagamento da dívida feita com a prefeitura em março passado. “Os R$ 5 milhões emprestados pela PBH nos deram um certo alívio inicial, porque pagamos fornecedores e voltamos a receber insumos. Mas agora já estamos de novo sem medicamentos, materiais médico-hospitalares e laboratoriais”, diz Ivo Lopes.
A situação é tão crítica que apenas 40% do salário deste mês foi pago aos trabalhadores da unidade. O restante deverá ser quitado nas próximas semanas, mas o vencimento de outubro ainda é incógnita. “Alguns fizeram empréstimos para quitar dívidas, outros estão usando cheque especial. Já houve até vaquinha para fazer compras do mês”, conta um funcionário do hospital que não quis ser identificado. Se nada mudar, 350 dos 1.178 colaboradores deverão ser dispensados.
Para Ivo, a saída é um socorro financeiro do governo, o que ele pediu ontem em reunião com a Secretaria de Estado da Saúde (SES). A pasta disse em nota que vai avaliar a demanda. Já a Secretaria de Saúde de BH informou que está em negociação para a revisão do contrato com a maternidade. Procurado, o Ministério da Saúde não se pronunciou.Maurício Vieira Metade dos 40 leitos de UTI neonatal poderão ser fechados no Sofia; UCI também será afetada