Solidariedade: benfeitores garantem série de intervenções em BH

Renato Fonseca - Hoje em Dia
11/08/2014 às 07:30.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:44
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Há oito anos, o cenário era de completo abandono. Um verdadeiro bota-fora clandestino, com mato, entulho e completo breu. Porém, a degradação deu lugar à harmonia e à beleza, graças ao empenho e dedicação do casal Cléia de Assis e João Silvério.   Moradores do bairro Sion, na zona Sul da capital, eles cuidam de uma pequena praça na esquina da rua Montevidéu com Venezuela, em frente ao prédio onde moram. Diariamente, limpam o espaço, regam flores e podam plantas.   “Antes, até as caixas de gordura dos edifícios eram depositadas aqui. O que fizemos foi uma atitude simples. E nos dá enorme satisfação ter esse cantinho bem ao lado de casa”, conta João.   Cléia complementa: “Algumas pessoas até se assustam. Acham que estamos trabalhando. Mas, na verdade, isso não é um ofício. É um lazer e só traz benefícios para nós e para todos que passam pela via”.   Intervenções espontâneas como essa ganham corpo em BH. Não é preciso auxílio financeiro, apenas algumas horas de dedicação. As ações são promovidas por uma rede de benfeitores que, com atitudes simples, fazem a diferença, promovendo solidariedade.   Outro exemplo é a artista plástica Estella Cruzmel. A praça Santa Tereza, região Leste de BH, sedia desde abril de 2013 o “Santa Leitura”, todo primeiro e terceiro domingos do mês, das 9 às 13h. Obras variadas são colocadas em prateleiras, bancos e até numa passarela de 15 metros feita com plástico.   O projeto começou em 2010, nos fundos de uma loja de roupas, no bairro Floresta, com o nome de “Cantinho do Livro”. Os clientes podiam levar as obras para casa. No começo, só 50 exemplares. Hoje, mais de 6 mil, estocados num cômodo alugado por Estella. “As pessoas passam, olham, sentam-se e leem. É um espaço do saber gratuito e que faço com o maior prazer. Se pudesse, levaria o projeto para várias regiões da cidade”.   Conselho de graça pelas praças da cidade   Priscilla Silva e Gabrielle Almeida não são psicólogas nem adeptas das literaturas de autoajuda. Mas resolveram abrir o coração e ceder o ombro amigo a desconhecidos. Há pouco mais de um ano, reúnem-se aos sábados, domingos ou feriados em praças de Belo Horizonte para um bate-papo com quem passar pelo local.   Basta um lençol estendido na grama, balões em formato de coração e um cartaz com os sugestivos dizeres “conselhos grátis”. Pronto! Em questão de minutos, a roda está formada. São pessoas dispostas a um diálogo sem compromisso e bem descontraído, guiado pelos pitacos das meninas.   A iniciativa das turismólogas Priscilla, de 32 anos, e Gabrielle, de 27, surgiu após a leitura de um artigo em uma revista. Hoje, “os conselhos” integram outra intervenção pública na cidade, a “Feira Grátis da Gratidão”, na qual um grupo de jovens promove encontros para a doação de roupas, livros, CDs e quadros. Também há apresentações de dança e outras intervenções artísticas durante a feira.   Em sua oitava edição, o último encontro aconteceu no primeiro domingo deste mês, na Praça da Liberdade, e reuniu centenas de pessoas. Os eventos são marcados pela internet.   Novos participantes surgem a todo momento, como o engenheiro Fred Alves, de 41 anos, que também participa da roda de conselhos grátis. “Não é uma terapia. A gente escuta e passa alguma experiência de vida para a pessoa”, conta.   “Na verdade, pode até ser uma terapia, mas só se for para mim, pois acredito que a comunicação com o outro exercita até a minha empatia”, acrescenta Gabrielle.   Voluntariado em prol do bem-estar de todos   Ela já cuidou de crianças com câncer, pessoas com dificuldade de locomoção e, hoje, dedica pelo menos um dia da semana para acolher futuras mamães. Esther Kac, de 72 anos, é uma das doulas da maternidade Odete Valadares, no Prado, região Oeste de Belo Horizonte.   Entre as inúmeras possibilidades oferecidas pela voluntária, o apoio moral e o estímulo ao parto normal ocupam os primeiros lugares. “É uma espécie de colo, que muitas vezes as gestantes não têm, e dado com muito carinho e toda a atenção que merecem”, afirma Esther, que mora no bairro Luxemburgo, zona Sul da cidade.   Quem também é doula na maternidade e se orgulha ao falar do trabalho social é Maria da Consolação Cassimiro, de 60 anos. Ela trabalhou como enfermeira durante décadas no hospital e se aposentou, mas não larga mão de dar uma palavra de conforto e de levar sua experiência às gestantes.   Consolação é uma das funcionárias mais queridas da Odete Valadares. A simpática voluntária diz que, primeiro, é preciso conquistar a confiança das mulheres. “Elas precisam se sentir seguras para que o trabalho de todos os envolvidos, obstetra, enfermeiras e demais profissionais, ocorra da melhor forma possível”.   GRATIDÃO   E o esforço é recompensado pela alegria proporcionada às mamães. Cintia Pereira da Silva, de 33 anos, deu a luz à pequena Isabelly, na última semana, e contou com todo o carinho e atenção de Consolação antes e depois do parto. “Fantástico”, resume Cíntia. A mesma gratidão teve a gestante Juliana dos Santos, de 30. “Me senti muito acolhida. Legal saber que esse trabalho é voluntário”.

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