(Arquivo Pessoal)
Na sala de um cursinho pré-vestibular em Montes Claros, no Norte de Minas Gerais, entre tantos jovens que acabaram de concluir o ensino médio, Maria da Glória Caxito Mameluque estuda para passar em medicina. Ao contrário da maior parte da turma, Glorinha, como é chamada pelos colegas, está longe de ser marinheira de primeira viagem nos bancos da escola. Aos 79 anos, ela tenta o quarto diploma de curso superior.
A idade não é empecilho para Maria da Glória nem para milhares de idosos mineiros. Assim como ela, outras 2.024 pessoas com mais de 60 anos se matricularam em graduações presenciais ou a distância no Estado em 2015, conforme dados do Censo Escolar, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Maria da Glória é formada em enfermagem, direito e psicologia, além de ser autora de 16 livros de literatura. Mesmo trabalhando como psicóloga nos últimos anos e tendo atuado nas outras duas carreiras, o sonho dela sempre foi se tornar médica.
“Estudar medicina é um sonho antigo de infância, mas na época tudo era mais difícil e meu pai não permitiu, porque diziam que era curso de homem e eu era muito nova. Então, optei por enfermagem porque queria fazer algo ligado à área da saúde, mas nunca abandonei essa ideia”, conta.
Prova
Quase cinco décadas depois da primeira graduação, só agora ela conseguiu tempo para se dedicar aos estudos e tentar realizar o desejo de cursar medicina. E já está na expectativa de voltar à sala de aula.
No último domingo, Maria da Glória fez o vestibular de medicina das Faculdades Unidas do Norte de Minas (Funorte). “Se for chamada, quero fazer”, diz, animada.
Convivência
A estudante não tem medo de conviver com colegas mais jovens na universidade e tira a lição dos tempos de cursinho, em que foi muito bem acolhida pelos demais alunos. Eles, inclusive, foram desejar boa sorte para ela no dia da prova da Funorte. “Isso é uma beleza para a autoestima da gente”, diz.
Com a perspectiva de se formar médica aos 85 anos, a psicóloga garante que parar de estudar não é uma opção. “Na idade da gente não podemos entregar os pontos. Estudar me torna mais jovem, acho que também estou dando um exemplo para os mais novos. Meus colegas dizem que sou um estímulo para eles”, afirma.
Ela conta que quando foi aprovada para psicologia, aos 65, os colegas de sala se assustaram com a presença de uma pessoa mais velha na sala de aula. Mas com determinação, Maria da Glória conseguiu mostrar a todos que a velhice não é um impedimento para os estudos. “Fiz, formei e trabalho com isso desde 2007”.Editoria de Arte