(Maurício Vieira)
Exames realizados em amostras colhidas pela Polícia Civil na fábrica da Backer, na última quinta-feira (9), indicaram a presença de dietilenoglicol e monoetilenoglicol. Os produtos foram retirados do tanque de resfriamento da empresa. No sangue de quatro pacientes com a síndrome nefroneural também foi detectada a substância tóxica. A informação foi divulgada pela corporação na manhã desta segunda-feira (13). Uma nova vistoria deve ser feita no local nesta terça-feira (14).
Até o momento, 11 casos são investigados pela força-tarefa criada para acompanhar as vítimas da doença, que pode ter sido provocada por intoxicação de dietilenoglicol presente em garrafas da cerveja Belorizontina. Um deles, morador de Ubá, na Zona da Mata, morreu em Juiz de Fora, onde estava internado, após passar o Natal na casa da filha, no bairro Buritis, região Oeste de BH.
Uma das suspeitas é que a enfermidade esteja relacionada a uma contaminação da bebida. A hipótese de sabotagem não está descartada. Além dos dois lotes divulgados pela polícia na última quinta-feira ("constatada em mais um. Trata-se do "L21354".
A garrafa analisada havia sido recolhida pelo Ministério da Agricultura dentro da fábrica na quinta-feira e repassada à PC. O material foi levado, primeiramente, a Brasília, no sábado (11), para um teste de carbonatação, para atestar que não houve violação da cerveja. Posteriormente, foi feita uma análise que indicou positividade para dietilenoglicol e monoetilenoglicol. A garrafa tinha rótulo da marca Capixaba, cujo conteúdo é o mesmo da Belorizontina, porém, com outro nome para o comércio do Espírito Santo.
De acordo com a Polícia Civil, tanto dietilenoglicol quanto monoglicol podem provocar intoxicação. Segundo a Backer, o dietilenoglicol "não faz parte de nenhuma etapa do processo de fabricação de seus produtos, inclusive da Belorizontina". Mas a empresa utiliza o monoglicol no processo de produção e a nota fiscal de compra dessa substância foi apresentada aos investigadores.
A Polícia Civil explicou ainda que os lotes "L1 1348" e "L2 1348" foram entregues, majoritariamente, para uma grande rede de supermercados, que vendeu a Belorizontina com preços convidativos, visando Black Friday e as festas de fim de ano. Houve uma grande entrega de garrafas não somente a um estabelecimento do Buritis, mas também em unidades de Lourdes, Cidade Nova e na avenida Afonso Pena, além de Nova Lima.
De acordo com o delegado Flávio Grossi, responsável pelo inquérito, os casos analisados não aconteceram apenas no Buritis. A janela de contaminação ocorreu, especialmente,entre a segunda quinzena de novembro e a primeira de dezembro.
A investigação epidemiológica, conduzida pela Subsecretaria de Vigilância em Saúde, foi ampliada para novembro, o que significa ir além das ocorrências recentes de pacientes internados com sintomas do problema. A ampliação é uma medida de precaução. O objetivo é descobrir se houve, em meses anteriores, casos semelhantes, e se as supostas vítimas teriam consumido a cerveja da Backer.
Cada corpo reage de uma maneira
Segundo Tales Bittencourt, superintendente de perícia técnico-científica da Polícia Civil, estudos mostram que o dietilenoglicol pode causar sintomas de intoxicação com uma ingestão de 0,014 mg por kg a 0,170 mg por quilo. Ou seja, um homem de 70 quilos pode ter uma reação ao ingerir de um a 12 gramas do produto. "Pode-se ter exposição a um grama da substância e evoluir para o óbito e outra pessoa ingerir 12 gramas e não passar mal. Isso depende das predisposições individuais", explicou o perito.
Como cada caso é um caso, as manifestações da intoxicação podem aparecer em tempos diferentes, dependendo das condições do fígado e dos rins do paciente. Mesmo assim, segundo ele, habitualmente os sintomas surgem em até uma semana após a ingestão.
A Backer informou que segue colaborando e aguardando os resultados das investigações. "E reafirma que conforme anunciado, vai realizar uma vistoria completa em seus processos de produção, visando o esclarecimento a toda a sociedade", indica nota da cervejaria. O advogado da empresa informou que solicitou nesta segunda-feira acesso às informações do inquérito.
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