Menos verde, mais calor

Supressão de árvores contribui para aumento da temperatura em BH

Raquel Gontijo
raquel.maria@hojeemdia.com.br
Publicado em 13/02/2023 às 07:38.
Em média, 16 árvores somem do mapa por dia em BH. Só em 2022, foram realizadas 25.666 podas e 5.922 supressões em BH  (Hoje em Dia)

Em média, 16 árvores somem do mapa por dia em BH. Só em 2022, foram realizadas 25.666 podas e 5.922 supressões em BH (Hoje em Dia)

Cada vez mais comuns na capital que já foi conhecida como “Cidade Jardim”, a supressão de árvores de grande porte e o encolhimento de áreas verdes contribuem para a quentura que vem tirando o bem-estar dos belo-horizontinos. Além de ajudar a formar “ilhas de calor”, a perda da vegetação significa menos sombra e umidade, diminuindo a refrigeração e afetando o microclima da região. Em média, 16 árvores somem do mapa por dia em BH.

Segundo o Sistema de Informações do Inventário das Árvores da prefeitura, a cidade tem hoje aproximadamente 485 mil exemplares – 300 mil catalogadas e uma estimativa de 185 mil a serem cadastradas. No ano passado, foram realizadas 25.666 podas e 5.922 supressões no município, informou a PBH.

Numa análise geral, essa redução constante da cobertura vegetal agrava o cenário de emergência climática que o planeta já enfrenta, ao colaborar, por exemplo, com um fenômeno chamado “ilhas de calor”. 

“Nos centros urbanos, o concreto e o asfalto refletem a luz solar, que é irradiada em forma de calor. Na fotossíntese, feita pelas árvores, a radiação solar é absorvida, o calor é resfriado e devolvido de forma mais efetiva. A temperatura é ainda maior em construções que utilizam vidros, que refletem e aquecem muito mais”, explica o engenheiro ambiental Felipe Gomes.

Além disso, as sombras criadas pelas copas das árvores e a umidade gerada pela vegetação amenizam o calor. Sem falar que a diminuição das áreas verdes interfere no sistema natural de drenagem das águas pluviais, comprometendo a absorção da chuva e favorecendo inundações.

“Progresso"

O desafio também passa por conciliar o verde com o crescimento da cidade e ques[/TEXTO]tões de segurança. 
O Corpo de Bombeiros atendeu 145 ocorrências relacionadas à queda de árvores em BH apenas em janeiro deste ano. No mesmo período, realizou 60 cortes em vias públicas, 46 podas em estruturas com risco iminente de queda e 32 cortes ou podas de exemplares caídos sobre residências. 

Insuficiente

Apesar das iniciativas de compensação ambiental – quando novas mudas são plantadas para “repor” áreas desmatadas e árvores suprimidas –, especialistas e ativistas ambientais entendem que o “remédio” não é eficiente.

O problema está sendo discutido, por exemplo, na mata do Jardim América, na Região Oeste de BH, onde há previsão de construção de um empreendimento imobiliário. Ambientalistas lutam pela preservação de 465 árvores e animais silvestres que vivem no local.

Segundo Felipe Gomes, parte das árvores que podem ser eliminadas é nativa, centenária ou até ameaçada de extinção. 
“Há um ‘gap’ no plantio das mudas que irão compensar a área desmatada. (Leva tempo) até que elas cresçam, alcancem a mesma condição e realizem as funções de uma árvore de grande porte”, explica.

O engenheiro frisa que muitas dessas mudas sequer chegarão à vida adulta, devido a períodos de seca, queimadas e até vandalismo. 

“O processo para formar uma nova floresta é muito complexo, por isso a gente questiona. Além disso, essas áreas têm um ecossistema estabelecido, são habitat de diversos animais”, diz o especialista, para quem é necessário diálogo entre o poder público e os proprietários de terrenos no caso dos empreendimentos.

“Acreditamos no desenvolvimento sustentável. Se o poder público inviabilizar a derrubada de árvores de uma determinada área, o plano diretor de BH pode compensar o proprietário do terreno. O município tem mecanismos para compensar os donos de terrenos e garantir que as áreas verdes sejam preservadas”.

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