Tabu resiste e faz idoso e médico adiarem diagnóstico de Aids

Izabela Ventura - Hoje em Dia
16/12/2013 às 07:02.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:49
 (Marcelo Prates)

(Marcelo Prates)

Se falar sobre sexo pode ser constrangedor para muitas pessoas, imagine para os idosos. Mais ainda falar sobre Aids na terceira idade. Especialistas alertam que maiores de 60 anos têm descoberto a doença tardiamente, e muitos morrem sem saber que foi em decorrência do HIV. Igualmente preocupante é que nem os médicos sabem como tocar no assunto com esses pacientes, o que motiva uma discussão interna no Conselho Federal de Medicina (CFM).

A bioquímica Cássia Mendicino lembra do caso de um idoso cuja saúde piorava progressivamente. Foi a filha dele quem pediu ao médico o exame de HIV, pois o pai era sexualmente ativo. O teste deu positivo, mas a descoberta veio tarde demais para salvar a vida do homem.

Para Cássia, analista de saúde e tecnologia da Fundação Ezequiel Dias (Funed), os médicos, em geral, não pensam em Aids em idosos. E quando avaliam a possibilidade, não alertam os pacientes por “constrangimento” ou para “não chocar a família”.

Exames detalhados não são solicitados nem quando os pacientes apresentam sintomas da doença, como diarreia crônica. “Se um jovem aparecer no consultório com esse problema, o primeiro teste que o médico pede, depois de questionar se ele fez sexo sem proteção, é o de HIV. Com um idoso, ele provavelmente atribuiria a questão a uma doença crônica, típica da velhice”, explica Cássia.

Atualmente, quase 800 soropositivos com mais de 60 anos fazem tratamento na Funed.

Consequências

O reflexo da falta de diálogo está no Diagnóstico de HIV apresentado em outubro pelo Laboratório de Carga Viral da Funed. No Brasil, entre 2000 e 2011, a média de crescimento anual da Aids na população com menos de 60 anos foi de 2,66%. A partir dessa idade, porém, o aumento foi de 8,53%, três vezes mais.

Educador social da ONG Grupo Vhiver, José Henrique da Silva Filho ministra palestras e oficinas para idosos, e estima que 100% dos alunos não usam o preservativo porque acham que não precisam ou por medo de perder a ereção ao colocar a camisinha.

Ele conta que muitos não sabem se têm a doença porque os médicos nunca tocam no assunto. Já os soropositivos não têm ideia de quando contraíram o vírus.

É caso de J.H.R, de 58 anos, morador de Betim, na Grande BH, que descobriu o HIV há dez anos. Ele ignora quando e de quem contraiu o vírus, e se arrepende de não tê-lo detectado precocemente, em exames de rotina. “Quando fui ao médico, já estava com emagrecimento e queda de cabelo. Nunca consegui voltar à minha aparência”.

Hoje, apesar de ainda ser vítima de preconceito por causa da doença, ele diz levar “vida normal” e usa camisinha para não contaminar a esposa.

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