"Temos capacidade para receber grandes eventos", diz presidente da Belotur Mauro Werckema

Bruno Moreno - Hoje em Dia
07/07/2014 às 07:59.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:17
 (Samuel Costa)

(Samuel Costa)

Há anos o setor turístico mineiro prega que a vocação de Belo Horizonte é o turismo de negócios. Agora parece que, enfim, essa máxima vai se consolidar. A opinião é do presidente da Belotur, Mauro Werckema, que quer aproveitar a exposição da cidade durante a Copa do Mundo para promover a capital. “O Mundial nos mostrou que temos capacidade para receber grandes eventos”, avalia.

Werckema avalia que os novos hotéis, as atrações gastronômicas e a intensa movimentação cultural são fatores que vão ajudar a fomentar a imagem de BH como destino turístico. Ao mesmo tempo, salienta a importância da expansão do Expominas como forma de atração de um volume cada vez maior de eventos e, consequentemente, de visitantes.

Na última quinta-feira pela manhã, antes da queda do viaduto sobre a avenida Pedro I, Werckema concedeu entrevista ao Hoje em Dia, e comemorou o bom desempenho do setor turístico da cidade no maior evento esportivo do planeta. Informou que a cidade deve começar a utilizar um novo slogan – “A cidade da inovação” – para vender a imagem nacional e internacionalmente.

A reportagem tentou, por diversas vezes, ouvir novamente o presidente da Belotur sobre possíveis impactos da tragédia na imagem da cidade, mas não obteve retorno das ligações.

Há estudos apontando que Belo Horizonte será o terceiro polo de turismo de negócios do Brasil. O que falta para isso ocorrer?

Trinta novos hotéis já estão instalados em Belo Horizonte. Desses, seis são de redes hoteleiras internacionais, que, obviamente, não se instalaram aqui senão após estudos mercadológicos e de tendências e perspectivas das cidades. Eu andei lendo, em torno de três desses pareceres, que demonstram que Belo Horizonte será em, no máximo 3 anos, um terceiro grande polo de turismo de eventos e negócios do Brasil. Claro que atrás de Rio de Janeiro e São Paulo. Tudo isso que aconteceu na Copa deu muita visibilidade à cidade, mas também muita consciência das nossas vocações, das nossas dificuldades, e tornam essa discussão essencial e urgente. Belo Horizonte tem uma localização estratégica no mapa brasileiro. Antigamente, falava-se que Minas começa onde terminam as estradas. A centralidade era um fator negativo. Hoje, é um fator positivo. Somos uma cidade nova, com 116 anos, que está cada vez mais se verticalizando, e 86% de sua economia está no setor terciário. Isso quer dizer que não vamos crescer na indústria, mas na prestação de serviço. A criação de empregos e das atividades econômicas terão que ser feitas a partir da possibilidade que se renova exatamente por essa nova economia. Belo Horizonte é um polo da moda, gastronômico, de Tecnologia da Informação, de start ups. É um polo moveleiro, de educação, de medicina. E são esses setores os principais geradores de eventos.

Mas a previsão de que Belo Horizonte será o terceiro destino turístico no Brasil é uma percepção sua ou há um estudo que diga isso?

Há esses estudos mercadológicos dos grandes grupos hoteleiros que se instalaram aqui, mas também levantamentos nossos. Acabamos de concluir, em maio, um plano de marketing para Belo Horizonte, feito com recursos do Ministério do Turismo, pela maior empresa do Brasil de estudos turísticos e mercado-lógicos. Uma grande discussão, para uma cidade nova, é qual a identidade da dela, para onde caminhamos. Acho que a capital é uma cidade que transita entre a tradição e a modernidade. Essa pesquisa, que vamos começar a aplicar a partir de agora, mostra que Belo Horizonte poderia adotar o slogan: “A cidade da inovação”.

O que mais chamou a atenção da Belotur nesta Copa do Mundo?

Tivemos aqui torcedores de mais de 40 países. Belo Horizonte é uma cidade acolhedora, hospitaleira, que tem boas condições urbanísticas de locomoção, de hotelaria, de gastronomia e, é claro, o Mineirão. Nós temos nove pontos de atenção ao turista, como nos aeroportos de Confins e Pampulha, rodoviária, três shoppings, e na rua da Bahia. Nós colhemos opinião com os visitantes. Temos hoje uma visão muito realista da cidade e da sua qualidade de bem receber. E também de seus estrangulamentos.

E qual é essa visão? O que aponta essa conversa com os estrangeiros?

Primeiro, Belo Horizonte, de maneira urgente, precisa aproveitar toda essa vocação para o turismo de eventos e negócios. O nosso turismo não é um turismo só do século XVII, como Ouro Preto. Não é um turismo também de praia, mar, que nós não temos. O nosso turismo é o de cidade. Hoje existe esse conceito de turismo de cidade. É a cidade que oferece bens de cultura, de lazer e de entretenimento, de serviços de qualidade. No caso de Belo Horizonte, temos dois destinos acoplados que são Ouro Preto e Inhotim. Tudo isso temos que analisar, ponderar, à luz desse plano de marketing, que é muito recente. Nós temos indicadores importantes. O Ministério do Turismo realiza, anualmente, um estudo de competitividade das cidades brasileiras. Belo Horizonte evoluiu muito do ponto de vista dessa infraestrutura de bem receber, está acima da média do Brasil. Segundo uma instituição internacional que classifica eventos internacionais, Belo Horizonte pulou do sétimo para o sexto lugar dentre as capitais brasileiras em eventos internacionais.

Como aproveitar esses eventos?

Belo Horizonte é uma cidade em transformação. Primeiro urbanística, com grandes avenidas. Além disso, está recebendo esses 30 hotéis novos, temos no eixo dos bairros Santo Antônio-Lourdes mais de 60 restaurantes de alta qualidade, todos com chefs. A capacidade do Aeroporto de Confins vai passar de 10,5 milhões de passageiros/ano para 16 milhões/ano tão logo se completem essas obras. O Expominas está com um plano de expansão e, se tudo se realizar, se transformará num grande centro de convenções do Brasil. Por outro lado, todos os hotéis que aqui chegaram têm centros de convenções, e eles têm que sobreviver com isso. Há uma tendência universal hoje de ter foco em eventos de porte médio, com 300 ou 400 pessoas. E todos esses hotéis têm salas para isso.

Mas o que a cidade está fazendo para se consolidar como terceiro destino do turismo de negócios no Brasil?

Há um plano de marketing. Mas a Belotur elaborou e está com dois programas em execução. Um de estímulo de turismo de negócios. Esse é um programa feito com o Instituto Euvaldo Lodi, a Fiemg, e a secretaria de Estado de Turismo e Esporte. É o estabelecimento de uma rede, com todas as entidades, no sentido de fazer um esforço de captação de eventos para Belo Horizonte. O outro programa chama-se “BH receptiva”, que busca identificar pontos de dificuldade para que Belo horizonte seja efetivamente uma cidade de turismo de negócios, capaz de bem receber.

O que fica de aprendizado desta Copa?

Que Belo Horizonte é capaz de receber eventos de grande porte. O mundo inteiro hoje está lutando para receber eventos. Todo tipo de eventos. Hoje o turismo de negócios é 27% da movimentação de todo o turismo mundial e está em crescimento. Todas as cidades no mundo hoje estão investindo em centro de convenções. O turismo de negócio é o que mais deixa dinheiro.

Mas há anos escuto que Belo Horizonte tem vocação para o turismo de negócios. O que falta para que deixe de ser uma vocação e consolidar o setor?

Ainda falta um grande centro de convenções. Em geral, os grande eventos são acompanhados de feiras e exposições. Belo Horizonte ainda não tem condição de receber grandes eventos na área de recepção. Por exemplo, uma Abav – Expo Internacional de Turismo, que junta 15 mil pessoas. Um grande congresso de cardiologia, de 12 mil a 13 mil pessoas. Agora começa a ter. Estamos pulando para 32,7 mil leitos em hotéis. O aeroporto de Confins vai melhorar e o Expominas vai ser concluído. Além da gastronomia, de grandes eventos culturais. O Carnaval é outro exemplo. O Carnaval, que provocava fuga das pessoas, está mudando. Nós tivemos 186 blocos de rua cadastrados neste ano e, para 2015, a previsão é para mais de 240 blocos de rua. Quando nós percebemos isso, remodelamos o Carnaval. Tiramos as escolas de samba da Praça da Estação, montamos 14 palcos pela cidade. O público gostou e participou.

Os novos hotéis não correm o risco de ficarem obsoletos?

Acredito que alguns podem diminuir muito a taxa de ocupação. Não vai ser 90% ou 65% que foi a taxa na Copa. Mas o limite da taxa de ocupação de um hotel, para se ter equilíbrio financeiro, é de 14% a 16%. Segundo, hotéis firmaram contratos com empresas que garantem uma boa taxa de hospedagem. Há um fator importante. O turismo de eventos de negócios adiou a agenda para o segundo semestre, por causa da Copa.
 

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