A queda nas temperaturas e a baixa umidade relativa do ar, características do outono – estação que começou hoje – e também do inverno, são responsáveis diretas pelo aumento significativo de alergias e doenças das vias respiratórias e pela redução da imunidade da população.
“Nesta época, a chuva, que ‘lava’ a poluição e a poeira, cessa e, com isso, os componentes da exaustão dos automóveis, como o enxofre e o nitrogênio, acumulam-se, provocando a irritação das vias aéreas”, explica o pneumologista José Jardim, professor da Escola de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Além dos poluentes, o ar muito seco irá prejudicar ainda mais a respiração, já que os cílios presentes no nariz e no aparelho respiratório – que impedem a passagem de partículas estranhas às vias – têm maior dificuldade em executar o trabalho.
“Isso pode desencadear um processo inflamatório da laringe e da faringe, causando tosse seca e até com muco”, descreve o médico, que informa que o aumento das infecções por vírus da gripe acontece porque as pessoas fecham as casas devido ao frio, impedindo a circulação do ar. “Assim, se alguém tiver ‘carregando’ o vírus, vai haver a transmissão”.
Frágeis
Crianças e idosos, nas duas estações mais frias do ano, são mais suscetíveis às infecções. Meninos e meninas de até 2 anos têm imunidade ainda em construção e não conseguem combater vírus e bactérias como os adultos. Já os mais velhos, com a atividade diária reduzida e habituados a ficar em casa, também ficam mais propícios às doenças.
Um dos maiores perigos para crianças é o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), que é sazonal, circula na região Sudeste entre março e julho e tem alto potencial de contágio, principalmente entre quem frequenta creches, berçários e escolas.
“Na maioria das vezes, o VSR provoca nas crianças uma bronquiolite, que é a apresentação mais clássica. Mas elas podem ter, também, pneumonia ou crise de bronquite”, destaca o pediatra infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria.
O especialista relata que, quando a criança apresenta o vírus, geralmente não há mudanças significativas no estado geral dela. No entanto, “haverá uma dificuldade e um cansaço ao respirar, falta de ar e tosse. Se houver febre, será baixa”, explica.
Além Disso
No período outono-inverno, o índice de doenças respiratórias cresce em 40%, de acordo com a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF).
“Quem já tem alguma doença respiratória crônica, como asma e principalmente a DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica), apresenta uma tendência muito maior em ter crises nessa época do ano”, observa o pneumologista José Jardim.
A DPOC acomete cerca de 7 milhões de brasileiros, mas é subnotificada, pois apenas 12% desses pacientes são diagnosticados e menos de 20% deles recebem o tratamento adequado, relata a Associação Brasileira de Portadores de DPOC. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2020, a DPOC será a 3ª maior causa de morte no mundo.
Tosse e catarro são os sintomas iniciais da doença e podem levar à confusão com outras doenças. Com DPOC, o fluxo de ar é obstruído e há inflamação dos pulmões devido ao contato com gases e partículas nocivas.Lucas Prates / N/A
“Os cuidados com a pele precisam ser tomados desde a infância, já que o efeito da radiação é cumulativo e pode, mais tarde, levar ao câncer de pele”, afirma o oncologista Leandro Ramos
Mesmo no frio, protetor solar não deve ser deixado de lado
Apesar de as temperaturas caírem e a incidência dos raios solares UVA e UVB ser reduzida nesta época do ano, o cuidado com a pele também deve ser mantido. Em função do tempo mais fresco, há quem deixe o protetor de lado no dia a dia e mesmo quando se expõe ao sol.
Para o oncologista Leandro Ramos, da clínica Oncomed-BH, as pessoas devem ter cautela durante os 12 meses do ano para reduzir as chances de desenvolver um câncer de pele.
“Mesmo em períodos com menos sol e calor é importante manter a proteção. O câncer de pele é adquirido ao longo dos anos, com descuido contínuo e a disposição genética do paciente”, explica.
Conforme o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), a doença acomete, em maior proporção, pessoas de pele clara, sensíveis aos raios solares ou ainda que já possuem enfermidades cutâneas anteriores, com idade igual ou superior aos 40 anos. O câncer de pele é considerado raro em crianças e negros.
Vantagem
O especialista observa que a descoberta precoce da doença aumenta as chances de o tratamento ser bem-sucedido. “No início, o câncer é altamente curativo. Se a pessoa mantiver os cuidados com a pele e procurar um dermatologista assim que perceber alguma alteração na derme, o potencial de cura é elevado”, afirma o médico.
Dentre os principais sintomas do câncer de pele estão, além de pintas pretas ou castanhas que mudam de cor e textura, “lesões elevadas no nariz, na face, nas orelhas e nas mãos que descamam ou coçam com frequência são sinais que devem ser avaliados por um médico”, detalha o oncologista Leandro Ramos.