(Carlos Rhienck)
O quinto assassinato em pouco mais de dois meses dentro e no entorno da Comunidade William Rosa, no bairro Jardim Laguna, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), acendeu o alerta das autoridades sobre uma possível disputa de gangues por um novo mercado para o tráfico de drogas. A hipótese amedronta e atrapalha a maioria dos moradores do local, que tenta viver de forma ordeira e evitar a perda do terreno, propriedade da Ceasa.
Segundo as polícias Militar e Civil, traficantes e pessoas com histórico criminoso também se infiltraram na ocupação para fugir de buscas das autoridades. O local, vizinho à Ceasa, BR-040 e bairro Cabral, fica próximo também da Lagoa da Pampulha e de um shopping center recém-construído. Mas, dentro da área invadida, não há policiamento ostensivo ou repressivo rotineiro. Militares só entram na comunidade quando há ocorrências.
Medo
As últimas mortes no acampamento começaram a ser investigadas na segunda-feira. Durante a madrugada, Cleidson Ramos Nonato, de 22 anos, foi baleado 17 vezes. O crime ocorreu horas depois de um menor de 17 anos ser assassinado no mesmo local. Em novembro, outros três moradores da ocupação foram mortos.
Os assassinatos são motivo de medo entre moradores do bairro Jardim Laguna e da própria Comunidade William Rosa.
Segundo uma mulher que vive na rua José Ribeiro da Silva, “as pessoas não têm coragem de sair de casa à noite, por causa dos tiros que são ouvidos”. Ela pediu anonimato.
Ninguém da Prefeitura de Contagem quis comentar o assunto.
De fora
Frei Gilvander, um dos principais líderes dos movimentos populares de ocupação na RMBH, diz não acreditar que os crimes estejam relacionados com criminosos infiltrados entre as famílias.
“Para mim, esses casos envolveram gente que não tinha ligação com a ocupação e que pode até prejudicar o movimento, feito por pessoas de bem, honestas”.
Segundo Frei Gilvander, o maior drama do local não é a violência, mas as desigualdades sociais. Ele calcula o déficit habitacional na Grande BH de 200 mil moradias, sendo 150 mil na capital.
Sem previsão para desocupação
Proprietária do terreno ocupado, a Ceasa aguarda o cumprimento de uma ordem de reintegração de posse, já passada para a Polícia Militar. No entanto, a PM espera que as negociações entre o governo do Estado e moradores sejam concluídas.
A última reunião foi no dia 2. Na oportunidade, o governador Antonio Anastasia informou que não iria dar a ordem de desocupação do terreno. Um novo encontro está previsto para este mês.