(Frederico Ribeiro)
MOSCOU – A porta da cabine é aberta e o sono dos passageiros interrompido pela funcionária da empresa estatal RZD. Acompanhada de uma tradutora voluntária, ela avisa que o trem chegará em São Petersburgo em 30 minutos. Nem um segundo a menos, os 15 vagões com 540 pessoas a bordo param na estação às 6h40, conforme a previsão da passagem.
Na Rússia, o melhor meio de locomoção que levou os fãs do futebol de Norte a Sul e Leste a Oeste foi o transporte ferroviário com pontualidade soviética. Além de seguir o cronograma religiosamente, os trens divididos em três tipos de classe, sendo a mais comum composta de cabine com quatro camas individuais, eram gratuitos para torcedores credenciados pela Fifa e profissionais da imprensa.
Não só o trajeto de oito horas entre as megalópoles Moscou e São Petersburgo entrou no calendário do “Free Ride” da Copa do Mundo. Havia longas distâncias que facilitaram a experiência do torneio no país de maior território do planeta.
A reportagem do Hoje em Dia viajou para acompanhar três jogos da Seleção Brasileira no campeonato. Foram 96 horas e 58 minutos em trilhos russos, quatro dias cruzando florestas, rios e vilas numa distância total de 6.500 quilômetros. Seria como sair de BH e chegar à Cidade da Guatemala, na América Central, em linha reta.Frederico Ribeiro / N/A
CONFORTO – Cabines russas contam com camas
O deslocamento de Sóchi para São Petersburgo (pontos dos extremos Sul e Norte) parecia impossível – 36 horas de viagem em um trecho. Já as idas da capital russa para Samara, por exemplo, custaram 29 horas no total, mas diluídas no conforto dos vagões e beneficiadas pelos trajetos noturnos à disposição do público.
“Os trens são excelentes. Ao menos os da Fifa em que viajei. Todos com cama, ar-condicionado, tomadas, luz para leitura e restaurantes. Os banheiros são limpos. Talvez o único pecado é os funcionários não falarem inglês. Fora isso, são de excelente qualidade e pontuais”, afirma o médico mineiro Marcel Lopes, que chegou à Copa após um ano e seis meses em viagem pela Ásia.
Ranking
Em termos de malha ferroviária, a Rússia só perde para duas superpotências ao redor do globo. Os Estados Unidos, que voltará a receber a Copa em 2028, lidera a lista, seguido pela China, o país de maior população.
São 87.157 quilômetros de trilhos no país do Mundial. Aqueles concentrados no lado Oeste levaram e buscaram 287 mil torcedores, 64% do total que se deslocou durante a competição (448 mil pessoas).
O sistema de transporte ferroviário, que leva 1,3 bilhão de usuários anualmente e a quantidade similar em cargas, representa 81% do modal da Rússia, contra apenas 25% em terras brasileiras.