Tratamento oncológico menos agressivo é testado

Aline Louise Moreira
amoreira@hojeemdia.com.br
23/04/2016 às 20:43.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:05
 (Lucas Prates / Hoje em Dia)

(Lucas Prates / Hoje em Dia)

Aos 39 anos, a jornalista Lina Rocha descobriu um câncer de mama. A partir daí, iniciou o martírio que a grande maioria dos pacientes oncológicos passam na busca pela cura da doença. A quimioterapia, logo na primeira sessão, mostrou seu potencial destrutivo. Mas não apenas para o tumor. Atacou também células saudáveis. A queda imediata dos cabelos foi um dos resultados disso.

“É horrível, a sensação é péssima. Perder o cabelo é a maior materialização de que você está com câncer, é o retrato da doença. Junto vem o mal-estar. Depois da primeira sessão, eu fiquei dez dias sem conseguir fazer nada, de cama. O medicamento percorre o corpo inteiro, destrói células do intestino, estômago. À medida que o organismo reage a isso, toda sua energia é roubada. Fiquei fora do ar”, lembra.

Hoje, recuperada, Lina não reclama de tudo que passou. Ao contrário, agradece pela vida. Mas, se pudesse ter tido acesso a um tratamento menos invasivo, seria muito diferente.  “Seria maravilhoso. O grande problema do câncer é termos praticamente apenas um tipo de tratamento, não há muitas alternativas à quimioterapia. Se tivesse um medicamento que tratasse a doença de forma mais localizada e eficiente, seria menos dolorido para o paciente, que já está abalado emocionalmente e ainda se confronta com a dor física. Talvez, até reduzisse o estigma do câncer, especialmente no caso do de mama, em que 90% dos pacientes têm queda dos cabelos, o que fragiliza muito a mulher”.

Esse tipo de tratamento está sendo desenvolvido por um grupo de profissionais da UFMG, Cefet, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e a empresa Ceelbio. A coordenação é da professora e pesquisadora Roberta Viana Ferreira, do Departamento de Engenharia de Materiais do Cefet-MG.

Estímulo
A pesquisa consiste na construção de um dispositivo que, quando injetado na corrente sanguínea, é capaz de localizar e ficar acumulado na região do tumor. Depois, estimulada por um campo magnético alternado, esta cápsula libera a medicação desejada e, ao mesmo tempo, calor, propiciando o efeito chamado de hipertermia, que enfraquece e mata as células cancerígenas.

“Essas cápsulas, denominadas lipossomas, têm a forma de esferas extremamente pequenas e são preparadas a partir de fosfolipídeos com um fármaco antitumoral (remédio) e nanopartículas magnéticas. Este sistema é denominado magnetolipossoma”, explica Roberta.

Segundo ela, as nanopartículas têm a função de aumentar a temperatura do dispositivo e do meio. “Porém, isso só ocorre se forem expostas a um campo magnético alternado. O magnetolipossoma mantém o fármaco protegido no seu interior e só disponibiliza essa medicação para o organismo quando ocorre um aumento da temperatura do meio”, aponta.

Combinação capaz de combater vários tipos de câncer

A queda do cabelo, os enjoos e todos os inconvenientes da quimioterapia seriam consideravelmente suavizados com o sistema magnetolipossoma, garante a pesquisadora Roberta Viana Ferreira. Segundo ela, o método é mais eficaz, porque combina dois tipos de tratamento – a hipertermia com a quimioterapia.  Além disso, é mais específico, pois a medicação não se espalha por todo corpo. “Por ser localizado, o tratamento não causa tantos efeitos colaterais ao paciente. O calor, controlado até uma temperatura de 42 graus, é capaz de afetar as células de câncer, mas não as saudáveis”, diz.

Vários tipos

O novo tratamento também poderá ser usado em diferentes tipos de câncer, acrescenta a professora Rosana Zacarias Domingues, do Departamento de Química da UFMG, que participa da pesquisa. “A hipertermia é um tratamento que afeta qualquer tipo de câncer. A técnica utilizada para o preparo do dispositivo (magnetolipossomas termosensível), bem como as características dele, permitem a incorporação de uma ampla faixa de medicamentos. Dessa forma, é possível escolher o remédio de acordo com o câncer a ser tratado”, explica a especialista. A pesquisa foi iniciada em 2008. Atualmente, o método está sendo testado em pequenos animais, como camundongos.

Também já foram realizados testes in vitro com as linhagens de células-tronco mesenquimais, células de leucemia, de câncer de mama, todos com resultados muito promissores, diz Roberta. Porém, deve demorar de sete a dez anos para se ter de fato um novo tratamento disponível no mercado. A pesquisa é financiada pela Fapemig, CNPq e Capes. O investimento total gira em torno de R$ 400 mil.

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