UFMG analisa início de testes em primatas de vacina anticocaína

Da Redação
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24/10/2017 às 17:28.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:22
 (Foca Lisboa/UFMG)

(Foca Lisboa/UFMG)

Está em análise no Conselho de Ética da Universidade Federal de Minas Gerais o início dos testes em primatas da vacina que pretende eliminar a dependência de cocaína. O grupo avalia a toxicidade e a segurança da vacina, observando possíveis efeitos colaterais da substância. Após os testes em macacos, que deve durar cerca de um ano, é iniciado o protocolo de testes em humanos, última etapa para que a vacina possa ser comercializada.

Os estudos já são realizados há cerca de dois anos e meio por pesquisadores do Departamento de Química, da Escola de Farmácia e da Faculdade de Medicina.

Na fase de testes realizados com roedores, que já foram finalizados, os pesquisadores perceberam que quantidades menores da droga chegaram ao cérebro dos animais vacinados. “A indução de anticorpos provocada pela vacina reteve uma quantidade maior da droga no sangue do roedor, não chegando ao cérebro do animal, que é o alvo biológico da cocaína. Conseguimos diminuir os efeitos da droga no animal, alterando o perfil farmacocinético da substância”, revela o professor Ângelo de Fátima, do Departamento de Química.

Segundo o professor, há, nos Estados Unidos, uma vacina anticocaína em desenvolvimento, porém a substância em teste nos laboratórios da UFMG apresenta uma diferença estrutural importante que facilita a sua produção. “As vacinas convencionais, como a anticocaína dos Estados Unidos, originam-se de plataforma proteica, que pode ser uma proteína de vírus ou de bactéria. A nossa vacina vale-se de uma plataforma não proteica feita 100% em laboratório”, conta.

Ângelo de Fátima explica que a plataforma não proteica torna a vacina mais estável, fácil de ser manipulada e mais durável: “Como não usamos plataforma proteica, nossa vacina pode ser manuseada à temperatura ambiente e não precisa de refrigeração para a sua estocagem. Isso tudo torna a vacina mais barata e fácil de ser produzida.”

A vacina poderá ter efeito especialmente positivo para alguns grupos, como as mulheres grávidas que nem sempre conseguem interromper o uso da droga durante a gestação. “Nelas, a vacina funcionaria como um escudo, impedindo que a substância chegasse ao feto”, explica o professor Ângelo de Fátima.

O professor Frederico Garcia, da Faculdade de Medicina, destaca porém que a vacina anticocaína não deve ser vista como solução única para o complexo problema das drogas. “Em um campo em que ainda não existem medicamentos para tratar as pessoas, ela aparece como recurso que poderá ser associado ao tratamento psicológico e outras medidas”, diz Garcia.

Segundo Frederico Garcia, caso os testes clínicos sejam bem-sucedidos, a vacina estará disponível no mercado em, no máximo, cinco anos. Ela também pode servir de base para estudos com outras substâncias. “O modelo dessa pesquisa não vale para o caso do álcool, que é uma substância quimicamente muito simples, mas pode ser aplicado a outras substâncias que causam dependência, como a heroína ou a nicotina”, conclui.

* Fonte: UFMG

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