UFMG debate novo currículo que busca moldar o perfil profissional do aluno

Igor Patrick
ipsilva@hojeemdia.com.br
19/05/2016 às 17:21.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:31
 (Luiz Costa/Arquivo Hoje em Dia)

(Luiz Costa/Arquivo Hoje em Dia)

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) apresenta na próxima quarta-feira um novo modelo de organização curricular que pode mudar o acesso e os estudos dos alunos da instituição. A proposta de reconfiguração pretende flexibilizar as grades dos cursos, possibilitando que os estudantes possam montar o horário e até conseguir dois diplomas em menos tempo.

Idealizador da proposta, o pró-reitor de Graduação, Ricardo Takahashi, explica que o projeto foi desenvolvido observando experiências em outras universidades brasileiras e, principalmente, nos Estados Unidos e na Europa. O estudante cursaria um “caminho lógico”, no lugar de uma graduação específica, e só nos anos finais dos estudos optaria por se especializar na formação desejada. “É a consolidação de esforços de flexibilização que estamos fazendo há 20 anos e que vem funcionando com um potencial aquém do que poderia”, afirma Takahashi.

O modelo pretendido pela reitoria se subdivide em três estruturas. A primeira, chamada de formação fundamental, quer aglutinar as disciplinas de cursos de áreas correlatas. Assim, a matéria de formação pedagógica, por exemplo,  seria a mesma e reuniria alunos de várias graduações de licenciatura. Ao identificar os conteúdos em comum, a coordenação criaria uma base curricular que seria cursada por todos os estudantes de uma área.

Na segunda, a formação de tronco comum, o calouro optará por um caminho dentro da universidade e não mais uma graduação específica. Os dois primeiros semestres serão compostos por matérias obrigatórias. 

No terceiro, o aluno poderá escolher atividades optativas dentro do mesmo campo de conhecimento. Na prática, um estudante de engenharia poderia escolher disciplinas de automação, mecânica ou civil. As duas opções desembocam na formação específica, quando a escolha do curso acontecerá.

Previsão

Caso seja concluída até o segundo semestre deste ano, a nova grade curricular pode afetar os vestibulares já no ano que vem. Os candidatos às vagas oferecidas pela universidade não vão mais se inscrever em uma graduação, mas em uma área comum.

A seleção deve ser parecida com a já adotada pela Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri desde 2009. Lá, as engenharias estão organizadas no bacharelado de ciência e tecnologia (que dá acesso às engenharias de alimentos, civil, hídrica, mecânica, produção e química). Os cursos de ciências humanas ficam sob tutela da graduação interdisciplinar em humanidades (possibilitando a formação em geografia, história, letras e pedagogia).

a disciplina e o curso completo


Reorganização permitirá dois diplomas em menos tempo

O modelo proposto pela UFMG é complicado, admite o pró-reitor de Graduação, Ricardo Takahashi . Porém, ele acredita que os efeitos das mudanças serão percebidos assim que o aluno ingressar na universidade.

“Antes era muito difícil unir cursos como artes plásticas com ciências da computação, por exemplo. Tivemos inclusive que criar um só para isso, o de artes digitais. Agora não. As linhas se cruzarão com mais facilidade”, avalia. Ao aproveitar conteúdos de ambas as graduações, observa o pró-reitor, seria possível conseguir dois diplomas em menos tempo.

Outra vantagem da proposta é facilitar a matrícula de estudantes internacionais e descomplicar a vida de quem quer fazer graduação sanduíche no exterior. Os estrangeiros não desviariam tanto do modelo dos outros países e os brasileiros se adaptariam melhor no exterior.

“Em vez de se matricular para matérias que muitas vezes não podem ser convalidadas no retorno ao Brasil, um intercambista da UFMG ficaria livre para optar por algo que fizesse sentido dentro da sua linha lógica de formação. Melhoraria muito o sistema”, afirma.

Aproximação

Para o diretor-executivo da Fundação Estudar, Tiago Mitraud, a mudança deve aproximar a federal mineira dos currículos no exterior e proporcionar ao estudante aluno uma formação mais consciente e próxima do mercado de trabalho. “Com esse espaço de tempo para experimentar, ele faz uma escolha mais madura. A proposta reflete o dinamismo que a nova formação universitária precisa ter para preparar o estudante para o que ele vai fazer depois de receber o diploma”, afirma. 

Mitraud acrescenta que é cada vez mais comum que o curso escolhido não limite a atuação enquanto profissional. “Nessa direção, se você se graduou em engenharia mecânica, mas tem conhecimentos de elétrica, migrar de uma área para outra fica mais fácil”.

Formações propostas na reorganização curricular:

Formação Fundamental: Estruturas utilizadas para o ingresso e formação inicial de estudantes candidatos a diplomas afins. A duração padrão delas é de seis semestres, levando a um diploma próprio da formação fundamental. A denominação típica será Bacharelado Interdisciplinar. Versões reduzidas dessas estruturas podem ser orientadas para o ingresso de estudantes, com a duração de dois a quatro semestres. Após esse período, os estudantes fazem a opção por uma formação específica ou pelo bacharelado interdisciplinar.

Estruturas de formação inicial e profissional comuns a diplomas afins, que podem ou não ser utilizadas para ingresso. Essas estruturas podem ou não levar a diploma próprio da formação de tronco comum. Em caso afirmativo, haverá uma versão integral da estrutura com duração de seis semestres. Em caso negativo, as atividades acadêmicas curriculares poderão ser distribuídas do início ao fim dos percursos curriculares de que fazem parte. Também será possível que a versão reduzida de uma formação de tronco comum seja utilizada para uma formação complementar.

Estruturas ligadas à formação final do estudante, ou seja, quando ele opta qual carreira seguir. Atualmente, elas correspondem a toda trajetória do estudante na UFMG, inclusive o ingresso dele.

Com a apresentação da proposta, a comunidade acadêmica terá um prazo para se manifestar sobre as mudanças
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