(Flávio Fonseca/Arquivo pessoal)
Pesquisadores da UFMG iniciaram, nessa terça-feira (13), a testagem em primatas da vacina que pode ser o primeiro imunizante brasileiro contra a Covid-19. Essa fase é requisito para que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorize os testes clínicos em humanos. A expectativa é que o composto químico esteja pronto para ser usado no fim do ano que vem.
Como explica o professor Flávio Fonseca, pesquisador do Centro de Tecnologia de Vacinas (CT-Vacinas) da Federal, o Spintec, como é chamado provisoriamente, é o projeto que apresentou os melhores resultados, entre as sete vacinas em desenvolvimento atualmente na instituição de ensino, nos testes pré-clínicos em camundongos. Por isso, teve a autorização para os testes com os primatas.
"Os camundongos imunizados ficaram 100% protegidos, ou seja, nenhum veio a óbito ou adoeceu. Isso é o sinal da eficiência da vacina que esperamos confirmar com os testes com os primatas", afirmou Fonseca. Na terça-feira, a testagem com micos teve início. Ao todo, 10 macaquinhos passarão pelo experimento, que durará 60 dias.
"O primeiro grupo, com quatro macacos, está recebendo o imunizante com um adjuvante, substância que aumenta a resposta imunológica do indivíduo. O segundo grupo, também formado por quatro animais, recebe a vacina com outro tipo de adjuvante. O terceiro, o de controle, é formado por dois macacos que não receberão a vacina", informou a UFMG, em nota.
O professor explica que a testagem em primatas busca garantir a segurança e a imunogenicidade da vacina, ou seja, permite detectar se ela provoca algum efeito colateral e se gera anticorpos nas células de defesa. "O primata é o animal mais próximo do ser humano. Portanto, nessa fase de testes pré-clínicos é possível verificar qualidade e eficiência da vacina em humanos", declarou.Flávio Fonseca/Arquivo pessoal
Flávio e os micos: animais retornarão à natureza após experimento
O experimento, no entanto, não causará o sacrifício dos animais, que são provenientes de resgates feitos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Conforme o pesquisador, os micos foram microchipados e retornarão ao órgão após os testes para serem devolvidos à natureza.
Próximos passos
De acordo com Flávio Fonseca, os testes com primatas devem durar até junho. Após essa etapa, os pesquisadores esperam a autorização para iniciarem os testes clínicos em humanos, que contarão com três fases.
"Nossa intenção é começar os testes em humanos em outubro deste ano. Essa próxima etapa pode ser dividida em três momentos: as fases 1 e 2 levarão de 60 a 80 dias. A fase 3 durará cerca de seis meses. Caso confirmem a segurança e a eficácia da vacina, teremos um imunizante no mercado no fim de 2022", projetou o pesquisador.
Fonseca afirma que esse horizonte pode parecer distante, mas argumenta que o desenvolvimento de uma vacina nacional é importante porque dá autonomia ao país.
"Acreditamos que o coronavírus será como a gripe, ou seja, serão necessárias doses de reforço anuais. Não podemos contar com o recebimento de vacinas em conta-gotas, como vem acontecendo. Essa autonomia é necessária para garantir a imunidade da nossa população. As vacinas costumam levar cerca de 10 anos para serem desenvolvidas, o que mostra que estamos lidando com estudos feitos em tempo recorde em todo o mundo", explicou.
Spintec
A Spintec, que pode ser a primeira vacina brasileira, é desenvolvida pela CT-Vacinas da UFMG em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e tem financiamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
Conforme o estudo, a vacina tem plataforma tecnológica que combina duas proteínas, entre elas a S, que é utilizada pelo Sars-CoV-2 para invadir as células humanas. O composto formado pelas proteínas combinadas, também chamado de "quimera", é injetado no organismo e induz à resposta imune.