Usuários de drogas terão centro de referência na Lagoinha ainda este ano

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
12/04/2018 às 06:00.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:18
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Cenas corriqueiras do consumo de crack nas ruas e calçadas do bairro Lagoinha, Noroeste de BH, não deixam dúvidas de que a região se tornou ponto de concentração de dependentes químicos. O cenário, no entanto, pode começar a mudar com a inauguração de um Centro de Referência da População de Rua voltado para usuários de drogas, que será criado no bairro pela prefeitura.

O espaço oferecerá atendimentos médico, clínico e social aos usuários. Lá, eles poderão tomar banho, alimentar-se, guardar pertences e participar de atividades ocupacionais. A unidade deverá ser inaugurada ainda em 2018, segundo estimativa da Secretaria Municipal de Assistência Social e terá capacidade para atender até 200 pessoas.

O número de vagas pode parecer pequeno diante da quantidade de homens e mulheres flagrados diariamente fumando pedras em cachimbos ou latas de cerveja. Porém, para a secretária municipal de Políticas Sociais, Maíra Colares, não haverá excesso de demanda. 

“Percebemos que a dinâmica será semelhante às das unidades das regiões Sul e Leste, que têm público flutuante. Há dias com superlotação, mas, na média, o volume sempre é absorvido”, explica. 

Planejamento

O reduto de consumidores e traficantes às margens da avenida Antônio Carlos está próximo à Pedreira Prado Lopes, um dos principais aglomerados da capital. Entretanto, esse não é o único fator agravante do problema.

“A concentração de usuários também acontece porque é um corredor de fácil acesso ao Centro. Há ainda o contexto histórico, já que essa cena de uso persiste há anos naquela região”, observa Maíra Colares. “São pontos de passagem de pessoas, portanto, nem todos os que são vistos no local residem ali”, destaca. 

Para a antropóloga e professora da pós-graduação em Ciências Sociais da PUC Minas, Regina de Paula Medeiros, o enfrentamento do crack demanda planejamento cada vez mais cuidadoso, já que os usuários da droga se tornaram bastante estigmatizados ao longo dos anos. 

“Pesquisas recentes mostram que esses locais têm muito mais viciados em álcool do que em crack e eles se aglomeram por inúmeros motivos. Porém, tudo que tem sido feito nesse campo visa atender mais aos anseios dos órgãos públicos do que daquele grupo que tem um sistema de organização muito próprio”, avalia. Lucas Prates

Dezenas de usuários de drogas e álcool se acumulam pelas ruas 


Integração

A única forma de combater com efetividade a expansão do crack em Belo Horizonte é a integração dos órgãos de saúde e segurança pública. Quem afirma é o major Flávio Santiago, chefe da sala de imprensa da Polícia Militar. 

Ele expõe que a PM apreende, em todo o Estado, cerca de uma tonelada de drogas todas as semanas, mas que a sociedade está diante de um problema de saúde pública. “Há necessidade de ações híbridas de redução de danos, assistência social e de saúde pública”, ressalta.

(Colaborou Malú Damázio)

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