Temporada da 'navalha'

Ventos de agosto são alerta contra cerol, linha apreendida 3 vezes por dia em BH

Raquel Gontijo
raquel.naria@hojeemdia.com.br
Publicado em 31/07/2023 às 07:00.
 (Andre Brant/Arquivo Hoje em Dia)

(Andre Brant/Arquivo Hoje em Dia)

As férias escolares chegam ao fim, mas o alerta contra uma “brincadeira” perigosa, que pode até matar, está só começando. Agosto marca a temporada de ventos fortes, cenário propício para a criançada soltar pipas pela cidade. Médicos e autoridades destacam os riscos do cerol e da linha chilena, principalmente neste período. Quem for flagrado pode ser preso, além de pagar multa.

Os números comprovam a necessidade do apelo à população. Em apenas sete meses, a Guarda Municipal de BH aprendeu 731 rolos e carretéis de linhas cortantes – média de três por dia. Alguns feitos com fios de nylon de 0,35 mm de espessura, envolvidos em pó de quartzo e óxido de alumínio, capazes de provocar cortes profundos.

As principais vítimas são os motociclistas. Só no Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII, 14 pessoas foram atendidas em estado grave neste ano. As lesões mais comuns ocorrem no pescoço.

“Há ferimentos razoavelmente superficiais e mais graves, como nas vias aéreas, na artéria carótida, veia jugular, que podem causar danos irreversíveis, depende da gravidade do ferimento e do tempo que o paciente chega ao pronto-socorro”, explica o médico Rodrigo Muzzi, gerente do Complexo Hospitalar de Urgência e Emergência da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig).
 
Nas vítimas, as sequelas podem variar de uma traqueostomia à amputação de um membro. Mas quem solta a pipa também pode se machucar. O médico alerta que as amputações também são comuns nesses casos. O responsável pela “brincadeira” pode se enrolar na linha e sofrer a grave lesão.

“Há casos que mesmo se for refeita a circulação, podem ter tantos tecidos necrosados no membro, porque ficaram muito tempo sem circulação, que a amputação é inevitável”. Além disso, o médico alerta que a hemorragia pode levar a uma parada cardíaca. “E se a pessoa sobreviver pode ter um Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico em metade do cérebro pela falta de sangue”, conclui o médico. 

Vítima
Recentemente, o ajudante de carga e descarga Wellington Geraldo da Silva, de 26 anos, foi atingido por uma linha com cerol em 22 de julho, quando seguia de moto pela Via Expressa de Contagem, no trajeto de volta para casa, em Esmeraldas, também na Grande BH. 

O motociclista foi surpreendido com uma linha no pescoço. O jovem tentou retirá-la com uma mão, mas não conseguiu. A linha apertou ainda mais e, no desespero, ele tirou as duas mãos do guidão para arrancar o cerol. Porém, se desequilibrou e caiu na rodovia. 

Wellington foi atendido pelo Corpo de Bombeiros e levado para um hospital. Por sorte, teve um corte superficial no pescoço, mas devido à queda da moto machucou um dos braços e o ombro, além sofrer escoriações pelo corpo. “Peguei cinco dias de atestado, fiquei afastado, só em casa, tomando remédio para dor, anti-inflamatório e fazendo compressas no ombro”. A motocicleta teve vários estragos.

Ações de conscientização estão previstas ao longo do mês nas escolas da capital para alertar os estudantes sobre os perigos de se soltar pipa com linhas cortantes. As campanhas educativas também são feitas pela Guarda Municipal de BH

Multa para quem vende o material cortante chega a R$ 179 mil

Uma lei estadual criada em 2019 proíbe a venda das linhas cortantes. Segundo a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública, em casos de reincidência, as multas podem chegar a R$ 179 mil. As denúncias podem ser feitas pelo Disque Denúncia, 181.

O sargento Adalberto, do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), reforça que quem utiliza ou comercializa o material pode ser detido e responder por lesão corporal e perigo à vida e à saúde de terceiros. Segundo o militar, a maior parte das ocorrências é registrada em regiões de vulnerabilidade social. Grande parte dos envolvidos é formada por menores ou “jovens adultos”.

Além disso, vale destacar que o uso de antenas “corta-pipa” é obrigatório para motofretistas e mototaxistas. Se for abordado em uma blitz, o piloto é orientado sobre os riscos e pode ser autuado.

Campanhas
Ações de conscientização estão previstas ao longo do mês nas escolas de BH para alertar os estudantes sobre os perigos de se soltar pipa com cerol. As campanhas também são feitas pela Guarda Municipal.

Leia mais:

© Copyright 2024Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por