Viagens suspensas e menos ônibus na rua em Belo Horizonte

Iêva Tatiana - Hoje em Dia
31/10/2015 às 07:59.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:17
 (Flavio Tavares)

(Flavio Tavares)

Uma semana depois de o reajuste das tarifas de ônibus entrar em vigor novamente, outra surpresa aguarda os usuários do transporte coletivo de Belo Horizonte. A partir de amanhã, 68 linhas que operam na capital sofrerão alterações: 66 terão o quadro de horários reduzido, uma passará por alteração no itinerário e a outra por correção na numeração do ponto final.

A mudança acontece sem anúncio prévio da BHTrans e implica suspensão de mais de 300 viagens diárias, principalmente nas linhas alimentadoras. A medida caminha na contramão da demanda da população, que acumula queixas justamente contra a falta de ônibus e a longa espera nos terminais.

“Tivemos aumento na passagem, mas nenhuma melhoria na qualidade do serviço. Os ônibus estão sempre lotados. Com esses cortes, eles provavelmente vão ficar mais cheios. Essa medida só vem para piorar o serviço”, reclama o desenvolvedor de softwares Donnys Fernandes Silva, de 26 anos.

A BHTrans afirma que os ajustes serão feitos para adequar a oferta de viagens à demanda dos usuários. A autarquia de trânsito garante que as alterações ocorrerão fora dos horários de pico e que a operação das linhas é monitorada permanentemente pela empresa.

“Os quadros de horários são dinâmicos e podem ser ajustados por solicitação dos usuários, visando ao melhor atendimento, ou das concessionárias, respeitando os limites contratuais”, diz a nota enviada pela BHTrans.
Migração
Segundo o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de BH (SetraBH), reduzir as viagens de determinadas linhas é uma adequação de rotina solicitada à BHTrans para evitar que veículos circulem vazios, em função da migração de passageiros.

Levantamento da entidade aponta para oscilações mensais e uma redução de 22 mil viagens na comparação entre janeiro e junho deste ano. “O interesse do SetraBH não é retirar ônibus de circulação. Pelo contrário, é colocar mais veículos rodando. Esse ajuste pode tanto reduzir quanto acrescentar viagens”, informa a assessoria do sindicato.

Defensoria Pública cobra transparência e promete intervir

Para a defensora pública Júnia Roman Carvalho, que atua na Defensoria Especializada de Direitos Humanos, Coletivos e Socioambientais, a falta de transparência da BHTrans em relação às alterações nas linhas de ônibus de BH foi agravada pelo fato de a autarquia agir às vésperas do feriado prolongado.

“Deveria ter havido publicidade sobre o assunto, mas não teve, assim como no aumento das passagens. Vamos ter que disparar ofícios para a BHTrans para ver o que ela informa sobre isso e, provavelmente, vamos entrar de novo com uma medida judicial. Mas, em função do feriado, só poderemos agir a partir de terça-feira”, antecipa a defensora.

Segundo ela, novo reajuste tarifário deverá ser anunciado pela prefeitura em dezembro.

Impactos

A relações públicas Camila Vilela Martins, de 33 anos, usa diariamente a linha 642, que sofrerá mais cortes nas viagens a partir de amanhã. Ela ficou indignada ao saber das mudanças.

“Essa redução é um absurdo. O ônibus já demora a passar e ainda vão cortar! Perdemos muito tempo esperando, tanto para ir quanto para retornar, e ele está sempre cheio”, lamenta.

O presidente da Associação de Usuários do Transporte Coletivo (AUTC), Ivanir Maciel, avalia o cenário como “perverso” para quem depende dos coletivos na capital. “A situação ficou caótica e desrespeitosa. Mal conseguimos segurar o rebaixamento das passagens, a administração pública conseguiu subi-las novamente, e agora reduz o quadro de horários”.

Segundo Maciel, os usuários de ônibus de BH não toleram mais o peso do serviço no bolso sem contrapartida na qualidade.

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