(Rogério Florentino Pereira/Olhar Direto)
A vingança de um comerciante que frequentemente era assaltado resultou na morte do pequeno Rhayron Christian da Silva Santos, de 2 anos, em Cuiabá. Ele foi envenenado com pesticida após ingerir o achocolatado Itambezinho, da marca mineira Itambé.
Essa foi a conclusão da Polícia Civil do Mato Grosso, que nesta quinta-feira (1º) prendeu Adônis José Negri, de 61 anos, e Deuel de Rezende Soares, de 27. O primeiro contaminou a bebida láctea enquanto o segundo furtou o produto e revendeu para o pai da vítima.
Apesar do esclarecimento do caso, a venda das cinco milhões de unidades do Itambezinho (200ml) fabricadas em 25 de maio deste ano, com validade até 21 de novembro, continua proibida. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a interdição cautelar do produto pode durar até 90 dias, por questão de segurança. "É um rito sanitário que independe do laudo da polícia", informou o órgão.
Por meio de nota, a Itambé frisou que desde a comercialização da bebida "não foram registradas reclamações de nenhuma natureza". A empresa ainda lamentou o episódio e "se solidariza com a dor da família e reforça seu compromisso com os consumidores brasileiros ao entregar produtos da mais alta qualidade".
Inquérito
Os laudos periciais realizados no achocolatado e nas amostras colhidas do corpo da criança indicaram a presença de Carbofurano, usado para matar ratos. Segundo o delegado Eduardo Botelho, responsável pela investigação, Adônis usou uma agulha para contaminar a bebida láctea.
O comerciante, conforme as autoridades mato-grossenses, não se conformava com os constantes assaltos ao comércio e, por isso, decidiu 'punir' o bandido. “Ocorre que Deuel não fez uso do produto, mas vendeu o produto ao pai do menino envenenado, pelo valor de R$ 10 cinco caixinhas”, explicou o investigador.
Inclusive, na semana passada o Adônis e Deuel discutiram e, na ocasião, o comerciante chegou a ameaçar o suspeito.
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“Os furos encontrados nas embalagens de achocolatados foram fundamentais para esclarecer que era um caso de contaminação criminal do produto alimentício e o laudo pericial foi definitivo para o desfecho da investigação’’, explicou o perito Diego Viana de Andrade.
Adônis foi autuado por homicídio qualificado com emprego de veneno, além de homicídio tentado, já que um amigo da família do menino também bebeu o Itambezinho e foi hospitalizado. Deuel, por sua vez, vai responder por furto qualificado.
Depois de serem interrogados, eles foram levados para o Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC), onde ficarão à disposição do Justiça.
"Pânico"Reprodução
Nesta manhã a polícia cumpriu mandado de busca e apreensão e dois de prisão. Na residência do comerciante foram recolhidos amostras na geladeira para comprovar a substância utilizada no envenenamento.
Outros materiais, com uma bandeja, vestígio de achocolatado e embalagens lacradas da bebida, também foram recolhidas. A seringa e o pesticida, contudo, não foram localizados.
O caso ganhou grande repercussão em todo o Brasil e provocou temor de milhões de pais, que nas redes sociais chegaram a cogitar um boicote à marca mineira, que há 67 anos está no mercado.
O caso
A mãe do menino, Dani Cristina Perpetua da Silva, disse que comprou a bebida láctea porque estava barato. O menino foi levado a um hospital da cidade, no último dia 25, com parada cardiorrespiratória após ter ingerido uma caixinha do achocolatado.
À polícia, ela contou que o filho tinha passado mal após ter bebido o Itambezinho e teria ficado com "falta de ar, corpo mole e princípio de desmaio". Na unidade de saúde, "os médicos chegaram a tentar reanimar a criança por cerca de uma hora", disse a mãe, mas a criança não resistiu.