Não surpreendeu o ocorrido na semana passada em Teófilo Otoni, quando dois carros de policiais e outros dois vendidos recentemente por policiais foram incendiados durante a madrugada. Há 17 dias, alertamos neste espaço que podia se repetir em Minas a tragédia paulista, na luta da polícia contra o crime organizado.
O que se espera é que governantes e policiais não se deixem intimidar e, tampouco, se engajem nesse jogo de violência proposto pelos criminosos. Minas teve uma experiência muito ruim, em certa altura da ditadura militar, com esquadrões da morte. Eles não resolveram a questão da criminalidade e acabaram por tisnar a reputação de alguns policiais.
Pela relação dos veículos queimados na última quinta-feira – seis ao todo, dois sem ligação com policiais militares ou civis – vê-se que pertencem a pessoas da classe média que lutam para sobreviver e criar com dignidade suas famílias. Compreende-se a indignação dos proprietários com a perda do bem duramente adquirido. Mas eles e os colegas não podem buscar retaliação pessoal, e sim identificar os culpados para que sejam punidos pela justiça. De outro modo, viveremos aqui situação semelhante à paulista.
Mais que nunca, a polícia mineira precisa ser inteligente. Pôr em prática sua capacidade indiscutível de investigação e seu poder para se antecipar ao crime. Com os devidos cuidados, para não sucumbir diante de criminosos às vezes mais bem armados que os agentes da lei.
O governo, por sua vez, precisa continuar cuidando de resolver algumas questões que são usadas por quadrilhas, como o PCC, para justificar a violência e para arregimentar “justiceiros”. A principal delas é a superlotação das penitenciárias, onde se retira de milhares de condenados a condição de ser humano, rebaixando-os ao terreno dos animais, como lembrou recentemente, neste jornal, o juiz Antônio Álvares da Silva, professor titular da Escola de Direito da UFMG.
Não é possível, nesta altura da história, continuarmos tendo “cadeias medievais”, conforme denunciado publicamente pelo ministro da Justiça, referindo-se às prisões brasileiras.
Não há como negar que o ministro José Eduardo Cardozo tem sua parte de responsabilidade pela situação atual, e deve ser cobrado por isso. Certamente, é dever do poder público conceder ao criminoso um mínimo de dignidade. O mais importante, e isso tem sido deixado de lado, é que a pena seja uma tentativa de recuperação do criminoso.