Vírus agressivo deixa febre amarela mais mortal

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
22/01/2018 às 20:05.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:54
 (Marcus Ferreira/SES-MG)

(Marcus Ferreira/SES-MG)

Pacientes com febre amarela têm quase mil vezes mais chances de morrer do que as pessoas que contraem dengue, chikungunya ou zika. A taxa de letalidade da doença, desde julho do ano passado, gira em torno de 68%, aponta o último boletim da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). Para efeito de comparação, os óbitos referentes às outras três enfermidades – também transmitidas por mosquitos – não chegam a 1% no mesmo período.

O motivo é a rapidez e a agressividade com que o vírus da febre amarela age no organismo, afirmam especialistas. Em muitos casos, quatro dias podem ser suficientes para que o paciente chegue a um quadro de inflamação aguda no fígado e se torne vítima de uma hepatite fulminante.

O virologista Pedro Vasconcelos, diretor do Instituto Evandro Chagas, órgão referência em pesquisas sobre o tema no país e vinculado ao Ministério da Saúde, explica que o agente infeccioso pode desestabilizar totalmente o funcionamento do organismo, levando o paciente à morte em pouco tempo.

“A destruição do tecido hepático (fígado), que é o alvo principal, se dá de forma muito profunda. Esse é um órgão essencial para a metabolização do que é ingerido e mexe com toda dinâmica do organismo”, destaca o especialista. 

Para que o tratamento do paciente tenha sucesso, a agilidade da intervenção médica faz toda a diferença. “É agindo rápido que se protege a mucosa do estômago, que também começa a sangrar. Se o atendimento demora, a pessoa acaba chegando à falência renal”, acrescenta Vasconcelos.

Um balanço oficial do Estado deve ser divulgado hoje

Gravidade

Pesquisadores de arboviroses – patologias transmitidas por insetos – desconfiam que o vírus da febre amarela possa estar mais forte em relação aos primeiros registros da doença no Brasil, em 1932. 

O professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, Flávio Guimarães da Fonseca, explica que alguns institutos nacionais já sequenciaram o genoma do agente infeccioso e suspeitam de mutações que podem ser responsáveis pelo aumento das taxas de letalidade. “Mas isso ainda está em fase de pesquisa”, pondera Flávio da Fonseca.

Os estragos, no entanto, assustam. O vírus é tão violento que uma pessoa infectada pode ter falência renal até três anos após se tratar contra a doença. “Geralmente, é necessário um acompanhamento do paciente mesmo depois da alta médica”, afirma o pesquisador.

Diferenças

A principal diferença da febre amarela em relação a dengue, zika e chikungunya são os órgãos mais afetados pelos vírus após a infecção. Quem afirma é o professor de medicina da Universidade de Franca (Unifran), no interior de São Paulo, Homero Antonio Rosa Junior.

Ele esclarece que a febre amarela ataca diretamente o fígado e os rins, enquanto a dengue atinge o sistema circulatório, em que o tratamento mais precoce pode diminuir as incidências de mortes. “Já a chikungunya mira as articulações e, por fim, a zika tem um acometimento quase que exclusivo no sistema nervoso central e periférico”.Editoria de Arte

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