(Arquivo Pessoal / Divulgação)
Dois anos e meio foi o tempo que o engenheiro Luiz Felippe Telles levou para voltar ao trabalho depois de se intoxicar por dietilenoglicol, em dezembro de 2019, em Belo Horizonte. O contaminante estava na cerveja Belorizontina, da Backer. Na última segunda-feira (11), Luiz foi recebido com muito carinho pelos colegas de empresa no Funcionários, região Centro-Sul da capital.
Ele contou que voltar à rotina é uma conquista. Por conta da intoxicação, ele ficou 82 dias em coma e cinco meses internado em um hospital. Mesmo após a alta, travou uma batalha para conseguir ter a vida de volta, já que perdeu os movimentos do corpo e 100% da audição.
"Por muito tempo, achei que não fosse possível, mas consegui chegar lá. De maio de 2020 para cá (quando teve alta), foi uma batalha diária com profissionais de fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e psicólogos", disse Luiz Telles.
Durante o afastamento, o apoio dos colegas e da empresa em que trabalha foram essenciais para que o engenheiro pudesse se recuperar tranquilamente. "A empresa me recebeu de braços abertos e esperou pacientemente todo esse tempo até o meu retorno, e me deu total apoio".
Sequelas
Telles teve 100% da audição comprometida e precisou realizar uma cirurgia de implante coclear. Como sequela ele também teve paralisia facial e apenas 50% do seu rim funciona. Ele afirmou que desde a intoxicação, a cervejaria arcou apenas com fisioterapia e fonoaudiologia.
Além das consequência do dietilenoglicol no organismo, Luiz perdeu o sogro, Paschoal Dermatini Filho, de 55 anos. Eles estavam juntos em 22 de dezembro, em uma comemoração de fim de ano, quando tomaram a cerveja Belorizontina.
Luiz Felippe Telles
Relembre
O caso ganhou notoriedade em janeiro de 2020, quando surgiram relatos de envenenamentos "misteriosos" envolvendo moradores do Buritis, na região Oeste de BH. Os consumidores manifestaram sintomas de uma síndrome nefroneural, que provocava insuficiência dos rins e problemas neurológicos.
Uma investigação da Polícia Civil relacionou os problemas de saúde ao consumo de cervejas da Backer, principalmente a Belorizontina. As bebidas estariam contaminadas com uma substância tóxica conhecida como dietilenoglicol. Dez vítimas morreram e várias tiveram sequelas.
Em junho daquele ano, a investigação indicou que a contaminação ocorreu devido a um furo no sistema de refrigeração de um dos tanques utilizados pela cervejaria. Já em agosto de 2020, o relatório do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento confirmou que as contaminações ocorriam desde janeiro de 2019, afastando a possibilidade de evento isolado no histórico de produção da cervejaria.
Leia Mais
Cervejaria Backer terá que pagar multa de quase R$ 12 milhões por falta de recall
Caso Backer: réus e testemunhas de defesa ainda serão ouvidos pela Justiça; entenda
Primeira vítima da intoxicação das cervejas da Backer morreu em 2018; saiba mais
Delegado do Caso Backer diz que estranhou descaso com aumento do uso de dietilenoglicol na fábrica
‘Eu não consegui trazer ele de volta’; esposa de vítima da Backer documentou evolução da intoxicação