(Maurício Vieira )
Trabalhar para garantir o sustento da casa, criar os filhos, priorizar a educação deles e só então concretizar o sonho de retomar os próprios estudos. Essa é a realidade de Alzemir, Sônia e Regina, que entraram para a faculdade após os 50 anos. A história deles se repete por toda Minas Gerais, onde mais de 17 mil alunos nessa faixa etária estavam matriculados no ensino superior somente em 2017. De 2013 até o último Censo da Educação, feito há dois anos, o número de estudantes de 50 anos ou mais que frequentam cursos presenciais e a distância saltou 21%.
Para especialistas, a possibilidade de uma melhor colocação no mercado de trabalho e a perspectiva de um “up grade” no salário são fatores determinantes para a busca do diploma, assim como a necessidade de constante atualização em função das novas tecnologias. Além disso, o aumento da expectativa de vida e a iminente elevação da idade para aposentadoria também influenciam a decisão pela retomada dos estudos.
“As pessoas têm buscado uma melhor qualidade de vida, estão mais ativas. Muitos também voltam para a universidade com a intenção de mudar de carreira ou como forma de realização pessoal”, opina a coordenadora dos cursos de gestão de Recursos Humanos (RH), Gestão Financeira, Logística e Marketing das Faculdades Promove, Andrea Arnaut.
Exigências
Segundo ela, as empresas estão cada vez mais exigentes e o crescimento profissional, muitas vezes, está atrelado aos diplomas. Aluna do curso de estética, Sônia Robadel, de 52 anos, conta que em 2015 começou a perceber que tinha o currículo preterido pela falta de estudo.
Mesmo assim, a faculdade ainda era um sonho distante porque ela tinha prioridades mais urgentes, como garantir o futuro dos filhos, agora graduados. A idade também era um fator de desmotivação.
O início no curso de estética, possibilitado por uma bolsa do Programa Universidade para Todos (ProUni), foi como sair de um rio calmo em meio a um tsunami, descreve Sônia. “Parece que meu cérebro estava em repouso e recebeu uma enxurrada de informações ao mesmo tempo. Agora é como se estivesse sonhando, voando alto. Estou me sentindo melhor, mais capaz”, conta.
Inspiração
Natural de Comercinho, no Vale do Jequitinhonha, Alzemir Batista, de 55 anos, largou os estudos ainda no ensino fundamental para trabalhar na roça. Quando veio para BH, na década de 1990, se arriscou em um negócio próprio, que depois faliu. Anos mais tarde, observando as filhas entre livros e cadernos, ele teve um “insight”.
“Vi que podia fazer o curso de administração que tanto desejava. Fiz o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e hoje vejo a importância do conhecimento para não repetir os erros do passado. Se tivesse as informações teóricas, talvez não tivesse falido”, diz Alzemir, que recebeu uma bolsa de 50% das Faculdades Promove.
Ele conta que a rotina de conciliar trabalho de dia e estudo à noite. A expectativa é a de que o diploma traga mais oportunidades no mercado e melhoria salarial.
“Seja qual for o motivo, recomeçar nunca é tarde e voltar a estudar é sempre oportunidade de ampliar conhecimento, conviver com pessoas mais jovens. Estar conectado ajuda a oxigenar as ideias e se manter ativo. O importante é buscar o que gosta, não importa a dificuldade”, afirma Andrea Arnaut.
Coragem
A estudante Regina Moreira, de 55 anos, que está no terceiro período de Recursos Humanos, concorda com a professora e já faz planos para o futuro. “Hoje, quem não estuda está fora do mundo. O começo foi pesado, principalmente com as tecnologias. Agora não quero parar. Depois que me formar pretendo estudar administração”.
A dica para quem se encontra na mesma situação é acreditar em si mesmo. “Não pensem só nos filhos e não deixem para depois. Tenham coragem, senão o tempo passa”, finaliza Andrea Arnaut.