Ministério vê desindustrialização no Brasil

Jornal O Norte
18/11/2010 às 17:17.
Atualizado em 15/11/2021 às 06:44

O governo tomou partido no embate entre desenvolvimentistas e ortodoxos e concluiu que existe desindustrialização no Brasil. Um documento reservado produzido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) fez um diagnóstico do problema e avaliou que a indústria brasileira está perdendo espaço na economia.

Sob o título "Desindustrialização, reprimarização e contas externas", o estudo produzido pelos técnicos do MDIC aponta que a fatia da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) caiu de 30,1% em 2004 para 25,4% em 2009. O argumento é que, apesar do crescimento recente, a indústria avançou menos que os demais setores. Procurado, o MDIC não deu entrevista.

A avaliação do trabalho é que existe uma "correlação estreita entre as oscilações do câmbio e as exportações de manufaturados". Desde 2007, a fatia dos manufaturados nas exportações vem recuando e atingiu 40,5% no primeiro semestre - mesmo patamar de 1978.

De forma geral, as exportações crescem em um ritmo mais lento que a economia, enquanto as importações avançam velozmente. A participação das importações na produção doméstica saiu de 11,3% em 2003 para 19,6% no primeiro trimestre deste ano, pelos cálculos do governo.

"Não há como deixar de associar a expansão das importações à forte apreciação do real. Os dados indicam que a produção doméstica não acompanhou a demanda por produtos industriais, que foi suprida pelas importações", informou o documento.

No texto, os técnicos dizem que a aquisição de máquinas mais avançadas no exterior trouxe benefícios para a indústria, mas que boa parte das importações foi incentivada pelo preço mais baixo. É um argumento diferente do que o governo costuma utilizar de que o aumento das importações é benéfico para o País, porque são majoritariamente insumos e máquinas.

O MDIC quer chamar a atenção para a deterioração da balança de manufaturados, cujo déficit já chegou a US$ 30,5 bilhões no primeiro semestre, caminhando para um recorde este ano. Setores como máquinas, eletrônicos e químicos agravaram seus saldos negativos, enquanto têxtil e móveis tiveram reversão de superávit para déficit.

O caso mais "marcante" é o setor automotivo. Pelas contas dos MDIC, o superávit médio anual do setor saiu de US$ 9,1 bilhões entre 2004 e 2007, para déficit de US$ 3,1 bilhões em 2009. No primeiro semestre deste ano, o saldo negativo está em US$ 2,2 bilhões.

A conclusão do MDIC é que o ritmo de crescimento das importações exacerbou o rombo nas contas externas do País, que não pode mais ser coberto por investimentos estrangeiros diretos, aumentando a dependência de capital especulativo. O documento propõe que o governo incentive as exportações ao invés de impor qualquer tipo de controle das importações.

No primeiro semestre, o saldo comercial foi o equivalente a 8,8% das exportações. Os técnicos calculam que para eliminar a dependência de capital especulativo essa proporção teria que subir para 19,3%, o que é considerado "inexequível". O MDIC propõe, então, ações para elevar o saldo para 14,3% das exportações - um porcentual "factível". O documento ressalta, no entanto, que não se trata de uma "meta", mas de uma "diretriz" para as ações do governo. (Fonte: Estado de S. Paulo)

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