Olá amigo da cozinha,
Não me refiro aqui às mulheres de Atenas, e sem querer criar polêmicas, como os versos da música de Chico Buarque, falo de um assunto que está passando da hora de ser abordado e servir de reflexão para alguns espertos que povoam a periferia de nossas cozinhas.
Me dirijo a alguns produtores de eventos na esperança de fazê-los pensar um pouco mais além dos resultados imediatos e buscarem, em suas realizações, contribuir com algum legado para as próximas gerações, ou para as comunidades onde seus eventos se realizam.
Não tenho nada contra a busca por melhores rendimentos, especialmente em dias de crise como estamos vivendo, mas existem algumas ações que poderiam ser incorporadas nas festas que se utilizam da chancela gastronômica, e mudar sensivelmente sua qualidade, sem maiores impactos nos resultados monetários, deixando marcas importantes para o desenvolvimento cultural e social em nosso Estado.
Até mesmo alguns dos diversos eventos de botecos, com seus tira-gostos mirabolantes, já se voltaram para a busca de temperos especiais de sustentabilidade através da valorização do regional e conceituando os temas de suas edições.
Mais do que os sabores e receitas tradicionais, importados ou não, as criações de chefs e cozinheiros que levam em conta a Identidade Gastronômica, os produtos e as tradições locais reforçam o reconhecimento das diferentes culturas, ratificando esses badalados conceitos de sustentabilidade, tão maltratados por alguns oportunistas.
Portanto, amigo, deixo aqui uma reflexão para aqueles que têm realizado eventos por todo o Estado, que não basta um nome ou um slogan, pois a mesmice de certas propostas irá contribuir para o breve fim de suas histórias.
Repito, nada contra, mas então que não usem em vão o estigma das mulheres de Atenas, se não concordam com suas atitudes submissas.
Por favor, senhores produtores, parem de usar a gastronomia com falsos artifícios culturais e, mesmo que legítimos comercialmente, estão denegrindo uma imagem que temos construído com muita dificuldade.
Uma imagem que reforça a importância no contexto econômico e social, de um segmento que busca muito mais do que cultuar o alimento, mas valorizar toda a cadeia produtiva e cada um de seus atores com o devido respeito que merecem.
Mirem-se nos exemplos do Festival de Quitandas de Congonhas, do Festival do Biscoito de São Tiago, do Igarapé Bem Temperado com suas mestras e o símbolo maior de nossa cultura, os quintais, seus guisadinhos de hortaliças e seus fornos fumegantes. Mirem- se sem constrangimentos em eventos equivocadamente considerados elitistas, pois não se escondem atrás de fachadas politicamente corretas, como os Festivais de Tiradentes, de Araxá e outros que valorizam sim, e explicitamente, toda a cadeia alimentar, do pequeno produtor, passando pela indústria até o consumidor final, com o trabalho brilhante de grandes chefs de cozinha.
E agora, mirem-se também no Festival Como Sabará, que na sua primeira edição já se credencia para ser um dos melhores de todos os tempos, com os ingredientes da verdade e do respeito à nossa história, às nossas raízes, aos chefs, cozinheiros, aos comerciantes locais e aos produtores artesanais, às nossas tradições e identidades únicas.