Monetaristas não conhecem a porta de saída da crise

02/06/2016 às 07:38.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:42

Uma leitura apressada dos números do PIB no primeiro trimestre, divulgados ontem pelo IBGE, pode levar a interpretações equivocadas (leia matéria da repórter Tatiana Lagôa nas páginas 4 e 5). É positivo que o encolhimento da economia, de 0,3% na comparação com o trimestre imediatamente anterior, seja o menos intenso entre os cinco trimestres consecutivos de queda do PIB. Mas ainda não existe qualquer sinal consistente de que caminhamos para uma reversão do ciclo recessivo ou de que já tenhamos atingido o fundo do poço.

Para entender isso, vamos abrir alguns dados da composição do PIB e fazer algumas comparações. Em primeiro lugar, apesar do recuo ter sido o menor registrado até o momento, isso não significa que a queda não possa voltar a ganhar força. Em outras palavras, os motivos da desaceleração ainda não garantem que o movimento se estabelecerá como tendência.

Na comparação anual, os números ainda são terríveis e mostram deterioração do quadro. Contra igual trimestre do ano anterior, o PIB encolheu incríveis 5,4%, e no acumulado em 12 meses até março (contra os 12 meses imediatamente anteriores), a queda é de 4,7%. São os piores números do ciclo recessivo nessa comparação.

Na verdade, não existirá motivo para se pensar numa reversão estruturada do quadro recessivo enquanto os dados de investimento das empresas e do consumo das famílias continuarem sendo piores que a média de desempenho do PIB. São esses dois indicadores que apontarão, de fato, uma melhora do otimismo dos empresários e dos consumidores, do ambiente de negócios e das perspectivas futuras.

A chamada Formação Bruta de Capital Fixo, ou seja, o investimento na estrutura de produção das empresas, caiu 2,7% na comparação com o trimestre imediatamente anterior e assustadores 17,5% quando comparado ao mesmo período do ano passado. Os investimentos realizados no período, que somaram R$ 946 bilhões, representaram apenas 16,9% do PIB, um percentual risível, que representa quase que tão somente a recomposição da depreciação.

O que significa isso? Que as empresas ainda não enxergaram luz no fim do túnel e continuam amedrontadas e gerindo seus negócios pelo caixa.

Já o consumo das famílias, ou seja, tudo aquilo que nós pessoas físicas compramos (bens, alimentos e serviços), recuou 1,7% no primeiro trimestre contra o trimestre imediatamente anterior, e 6,3% na comparação com o mesmo período do ano passado. Essa queda, muito superior à média do PIB, é reflexo do desemprego, da corrosão do poder de compra pela inflação, da falta de crédito, dos juros altos e da insegurança da população em assumir dívidas de longo prazo.

Se não são as empresas nem as famílias, a desaceleração da queda do PIB no primeiro trimestre é justificada tão somente pelos gastos do governo, que aumentaram 1,1% na comparação com o trimestre imediatamente anterior. Mas, como todos sabemos, a política do atual governo é cortar gastos e, portanto, não teremos mais este alento nos trimestres que se seguirão.

O problema é que os gastos do governo, quando bem direcionados e executados com qualidade, são o único remédio verdadeiramente eficaz no combate do quadro recessivo, conforme provado em todas as crises, em todo o mundo. Foi assim no New Deal de Roosevelt da década de 30, na recuperação da Europa no pós-guerra, no combate à crise americana do sub-prime de 2009. Donde se conclui que Dilma errou quando escolheu Levy, assim como Temer, ao escolher Meirelles. Monetaristas não conhecem a porta de saída da crise.

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