(AFP)
Em The Story of God ("a história de Deus", na tradução livre), Morgan Freeman correu o mundo atrás das crenças dos seres humanos. Em The Story of Us com Morgan Freeman, que estreia neste sábado, 20, às 22h30, no National Geographic, ele busca respostas sobre temas como liberdade, paz, amor, poder.
A ideia é mostrar que mais coisas nos aproximam do que nos separam, apesar do clima polarizado, de "nós" contra "eles", no mundo hoje. Entre os entrevistados nos seis episódios, há desde presidentes como o americano Bill Clinton e o boliviano Evo Morales até membros da tribo emberá no Panamá e do povo dassanech na Etiópia. "Sempre procuramos a emoção ou então histórias espetaculares, desconhecidas", disse o produtor James Younger.
Em A Marcha pela Liberdade, por exemplo, Albert Woodfox, que ficou 43 anos numa solitária por ser membro dos Panteras Negras, conta como encontrou a sua liberdade na prisão. Em O Poder de 'Nós', Bill Clinton discorre sobre suas decisões mais difíceis na presidência, e o lobista Jack Abramoff conversa sobre o poder do dinheiro na política. Freeman falou com o Estado sobre a série.
Todos nós julgamos as outras pessoas. Fazer a série esclareceu sobre quem são essas outras pessoas e as histórias que têm para contar?
Muito. Acho que nos beneficiamos de ambas as séries ao nos sentarmos com essas pessoas para conversar. Se você se senta e come com alguém, sua perspectiva é alterada, especialmente no caso de pessoas de quem nada sabe. A ignorância causa medo. Ao mergulhar na vila Hamar, no sul da Etiópia, que é uma das sociedades mais primitivas de hoje, vi que são o povo mais pacífico, tranquilo que se pode encontrar no planeta.
Acredita que a série pode promover uma maior tolerância?
Para que serve a TV? Todo o mundo assiste à televisão. Se você conseguir usar uma mídia que alcança tanta gente e dizer coisas como: "Não somos tão diferentes" ou "Não deveríamos ter medo uns dos outros, e sim aceitar uns aos outros"... A gente mostra diversos grupos, e as pessoas podem ver que não somos tão diferentes assim. Todos estamos procurando as mesmas coisas, apesar das diferenças. Uma das coisas mais importantes para o cérebro humano é o conhecimento. Se eu o conheço, torna-se mais difícil não gostar de você. Claro que às vezes acontece (risos).
Sua visão sobre a humanidade mudou? Algo o surpreendeu?
Você está me fazendo voltar a todas aquelas entrevistas! Na Etiópia, visitamos o povo dassanech durante a cerimônia da paz, em que os mais velhos tentam convencer os jovens a não fazer guerra. Isso foi surpreendente.
Aprendeu algo sobre si mesmo?
Acho que não. Tenho aprendido sobre mim mesmo há 80 anos. Tenho certeza de quem sou.
Tem uma mente espiritual ou científica?
As duas coisas. A criatividade da mente humana é científica. Mas também é espiritual. E é isso que nos faz humanos.
A curiosidade permaneceu aguçada como quando você era jovem?
A curiosidade é apenas a procura pelo saber. Tem gente que fica feliz de levantar todos os dias, tomar café, ir para o trabalho. E outras pessoas têm mais tempo ocioso para pensar em coisas como se o Sol gira em torno da Terra.
Qual é seu nível de curiosidade?
Leio muito e sou curioso até não poder mais. Quero saber o que todo o mundo está pensando agora (risos).
Houve temas que gostou mais de explorar?
O episódio da liberdade foi o que mais abriu meus olhos. A natureza da liberdade é estranhamente diferente para cada um de nós.
Você é famoso. Indo a lugares tão remotos, conseguiu se tornar um pouco anônimo de novo?
O povo Hamar não me conhecia. Fiquei chateado (risos). Mas, sim, há algo a ser ganho quando você não é um evento. Porque o problema com a fama é que você se torna um evento. Todo lugar aonde você vai vira um evento. É cansativo. Passei cada momento pensando em como chegar lá, mas é aquela coisa: "Cuidado com o que deseja". Estar lá com o povo Hamar foi outra maneira de ser. Ainda assim estava andando no centro de uma equipe grande de pessoas. Nunca mais vou ser anônimo. Mesmo se for à Lua, vou perguntar: "Quem aqui me conhece?".