Morte de jovem levanta discussão sobre prós e contras de grupos de carona: veja como se proteger

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
03/11/2017 às 17:28.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:32
 (reprodução/Facebook/Kelly Cadamuro)

(reprodução/Facebook/Kelly Cadamuro)

O ato de estender o dedão na beira da estrada para conseguir uma carona ficou para trás com a internet. As redes sociais e aplicativos permitiram que pessoas interessadas em viajar com custo menor pudessem se encontrar para dividir as despesas com gasolina. Bom para todos, na teoria. Mas o caso da radiologista Kelly Cadamuro, morta por um homem a quem dava carona agendada via grupo de WhatsApp nesta quinta-feira (2), acendeu o alerta sobre a prática.

Há quem garanta que a carona marcada pela internet pode ser segura. O DJ Thiago Costa se mudou de Belo Horizonte para São Paulo há quatro anos e costuma usar um aplicativo para encontrar caroneiros dispostos a dividir a gasolina. “Tem avaliação das pessoas no aplicativo. Um histórico, como acontece no (site de compras) Mercado Livre”, explica. “Nesse aplicativo, você leva três pessoas e elas dividem a gasolina. Fica mais barato para os passageiros e o motorista não gasta com o combustível”.

Ele já incentivou a amiga Fernanda Alves a usar a mesma estratégia para viajar gastando menos, mas a produtora cultural tem medo de dar carona a estranhos. Ela chegou a se inscrever uma vez, mas acabou desistindo. “O maior medo não é do roubo, mas do assédio”, diz Fernanda, que já foi assediada em uma viagem de ônibus. Tanto que hoje ela prefere gastar cerca de R$ 250 com viagens de ônibus leito, em que há um espaço maior entre os passageiros.

Roubadas

A produtora de cinema Débora Lucas viaja bastante entre Rio de Janeiro, onde mora, e Belo Horizonte, onde vive sua família. Recorre aos grupos no Facebook para encontrar caronas ou caroneiros. Ela aproveita a própria rede social para investigar as pessoas antes de acertar a viagem. “Eu penso que se eu vou ficar 6h no mesmo carro com a pessoa dirigindo pra mim, se for um homem ou mulher meio babaca, nem rola, porque vai ter estresse”, conta Debora.

A principal “roubada” que ela vivenciou foi quando uma caroneira chegou uma hora atrasada no ponto de encontro, no Rio, e criou problemas na chegada a Belo horizonte. “Quando a gente chegou no BH Shopping, que era onde as duas (caroneiras) ficariam, já eram quase 2h da madrugada. E a menina ficou com medo, mesmo tendo um ponto de táxi cheio e um ponto de ônibus com umas 15 pessoas, além da outra menina pra acompanhá-la. Explicamos que atrasamos por causa dela. Com isso pegamos um trânsito que não era pra pegar. Chegamos muito depois do previsto”.

Uma jornalista que pediu para não ter o nome divulgado, para não atrapalhar os contatos feitos em um grupo de carona do Facebook, diz que faz questão de buscar carona entre pessoas próximas ou conhecidos de amigos. Mesmo assim, já passou aperto. “Uma vez, o cara que era motorista acendeu um baseado enorme depois da balança da Polícia Rodoviária Federal e disse: 'De boa, né, gente?' Para mim não foi de boa. Era rodovia e ele estava dirigindo'”.

Precauções

De acordo com o major Flávio Santiago, chefe da sala de imprensa da Polícia Militar de Minas Gerais, a prática da carona não é incentivada pela polícia, especialmente porque o motorista pode levar para seu carro uma pessoa com passado criminoso ou más intenções. “A pessoa pode aproveitar a carona para transportar pasta base de cocaína, maconha ou anfetaminas, por exemplo”, diz o major. Se a droga for achada em uma blitz policial, o motorista terá enorme dificuldade em explicar que estava apenas dando carona a um traficante.

“Muitas pessoas podem usar o aplicativo como um caminho para um tipo de conduta criminosa. Se alguém tem um interesse escuso e tem uma pessoa ali oferecendo um transporte, fica fácil fazer algo. Num mundo como o nosso,  temos de ter medidas de autoproteção”, afirma o major.

Ele recomenda que as caronas aconteçam com pessoas conhecidas ou referenciadas – ou seja, quando é possível buscar referências sobre elas. “Caso a pessoa tenha optado pelo sistema do aplicativo, vale observar o corpo dela, os gestos e olhares. Se perceber uma anomalia nesse sentido, tente buscar um posto policial. Ou procure por um ponto de parada e ligue para a polícia. Nesse caso, também vale destratar o que foi combinado”.

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