(AFP)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é apontado como suspeito de cometer o crime de tráfico de influência. A conclusão teria partido de procuradores do Núcleo de Combate à Corrupção, após análise de provas colhidas das empresas de Lula, da Odebrecht e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que liberava o dinheiro indiretamente à empreiteira. Trechos dos documentos foram publicados pela "Época" neste final de semana. A revista afirma ter obtido acesso às provas.
Segundo informações obtidas pela publicação, Lula teria vendido sua “influência política” à Odebrecht por R$ 7 milhões, e um contrato de palestras entre uma empresa do ex-presidente e a empreiteira teria servido para "dar aparência de legalidade" ao crime.
O BDES, de acordo com informações do Ministério Público Federal (MPF) à revista, aprovava com "velocidade incomum" (49% acima da médica) os financiamentos que envolviam gestões de Lula e interessavam à Odebrecht.
Ainda conforme a documentação obtida pela revista, a influência teria começado quando Lula ainda estava no Planalto. A publicação citou um encontro realizado em maio de 2009 entre Lula e Hugo Chávez, quando teria sido acordado uma participação do banco estatal nos investimentos em infraestrutura no país vizinho. Foi liberado então, um financiamento no valor de US$ 747,1 milhões pelo BNDES, em novembro daquele ano, para a Odebrecht construir duas linhas de metrô na Venezuela O caso passou a ser investigado pelo Tribunal de Contas da União.
Mensagens em celular ligam reformas da OAS em tríplex e sítio à Lula
Investigadores da Operação Lava-Jato encontraram diálogos no aparelho celular do empreiteiro da OAS Léo Pinheiro, um dos condenados no escândalo de corrupção da Petrobras, que podem ligar Luiz Inácio Lula da Silva a um tríplex no Guarujá e um sítio em Atibaia, reformados pela OAS. As informações foram publicadas pela revista Veja, que divulgou os dialogos neste sábado (20).
Os policiais acreditam que a nomenclatura usada nas mensagens de "chefe" e "madame" fazem referência ao ex-presidente e à esposa dele, Marisa Letícia. A suspeita é de que o petista tenha usado a empreiteira e amigos para esconder o patrimônio.
A revista Veja divulgou os diálogos neste sábado (20). "Fábio", segundo a reportagem, seria Fábio Luís, o Lulinha, filho mais velho do casal. Ele teria visitado as obras, participado da discussão dos projetos e era usado como ponte entre a família e a empreiteira, sempre que fosse necessário resolver detalhes dos serviços.
Paulo Gordilho, outro diretor da OAS também aparece nas conversas em discussões sobre a decoração e instalações dos armários de cozinha nas duas propriedades.
A construtora OAS pagou até mesmo eletrodomésticos da cozinha do tríplex. Segundo investigadores, a empresa adquiriu geladeira, no valor de R$ 10 mil; forno de micro-ondas, R$ 5 mil; tampo de pia de resina americana, R$ 50 mil; e forno elétrico, R$ 9 mil. A cozinha e o quarto teriam custado à empreiteira R$ 380 mil.
Há duas semanas, um funcionário da empresa Kitchens afirmou, em depoimento ao Ministério Público, que a empreiteira OAS pagou em dinheiro vivo os móveis e eletrodomésticos da cozinha e da área de serviço do sítio em Atibaia frequentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua família. A testemunha relatou ter recebido a primeira parcela, de R$ 50 mil, em espécie e ainda confirmou que a compra foi negociada pelo ex-executivo da OAS, Paulo Gordilho.
O total comprado para o sítio foi de R$ 180 mil. Só com eletrodomésticos e mobiliários da cozinha, foram R$ 130 mil.
O sítio passou a ser investigado pela Operação Lava Jato por suspeitas de que as melhorias foram usadas como pagamento de propina em troca de contratos fechados pela empreiteira no governo. Há suspeitas de que Lula seja o real dono do sítio, que está em nome dos empresários Fernando Bittar e Jonas Suassuna, sócios de Fábio Luís Lula da Silva, filho de Lula.
Embora a OAS tenha pago pelos equipamentos, a empreiteira pediu que Bittar figurasse como comprador. "Gordilho, no momento de aquisição dos armários do sítio, indicou os dados de Bittar para que constasse na nota fiscal", aponta outro trecho de documento da investigação em curso.
O MP suspeita que Suassuna e Bittar atuaram como "laranjas" do petista no imóvel rural. A área tem 173 mil m², o equivalente a 24 campos de futebol e foi comprada por R$ 1,5 milhão. Embora os dois tenham comprado terrenos contíguos, supostamente de mesmo tamanho, Suassuna pagou R$ 1 milhão e Bittar, R$ 500 mil. O advogado Roberto Teixeira - a compra do sítio foi lavrada no escritório de Teixeira, compadre de Lula -, disse que a diferença dos valores é "porque os sócios convencionaram dessa forma, como é absolutamente lícito em qualquer negócio privado".
Filho de um amigo de Lula, o fundador do PT e ex-prefeito de Campinas Jacó Bittar, Fernando Bittar é sócio de Lulinha na G4 Entretenimento. A empresa tem fatia da BR4 Participações, que, por sua vez, tem participação do grupo Gol Mídia, de Jonas Suassuna. Ele consta como atual ou ex-sócio de 17 empresas.
O gerente deu, ainda, um detalhe que intrigou os investigadores. A formalização da compra, incluindo pedido, contrato e projetos, foi assinada fora da Kitchens, que a recebeu já com as firmas, por meio de um portador da OAS. Isso significaria que o verdadeiro comprador não queria aparecer. A Kitchens não foi autorizada a entrar no sítio para fazer as medições dos armários, o que é atípico, pois havia uma reforma no imóvel. Os armários foram fabricados com base numa planta fornecida pelo ex-executivo.