(Lucas Prates )
O Instituto Inhotim, museu a céu aberto em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, vai voltar a receber o público. As visitas foram suspensas no dia 18 de março por causa da pandemia da Covid-19. A data de retorno ainda será definida com base em avaliações de autoridades sanitárias e nos dados de evolução da doença. Mas já está certo que a reabertura do espaço vai seguir o protocolo preparado por uma consultoria especializada em infectologia, que foi contratada pelo Instituto para auxiliar na definição das estratégias de prevenção e controle do novo coronavírus.
“Estamos trabalhando com um cenário muito incerto. Muitas instituições tiveram sinais de reabertura e depois de retrocesso. Isso em várias áreas, então, a gente tem aguardado também momentos mais estáveis para anunciar o momento de reabertura”, informou o diretor-presidente do Inhotim, Antonio Grassi, em entrevista à Agência Brasil.Willian Gomes/ Inhotim
Manutenção
Apesar da visitação suspensa, funcionários das áreas de manutenção de galerias, de obras e dos jardins se revezam para manter as instalações. O Instituto aproveitou também para fazer reparações técnicas e de conservação. Segundo o diretor-presidente, todos os empregados que permanecem trabalhando no local passam por testes de diagnóstico da Covid-19 para evitar contaminação.
“Logo depois que entramos no isolamento, começamos a fazer os testes, porque parte dos nossos funcionários, em número reduzido, trabalha em rodízio para manutenção do jardim. Nessa equipe que trabalha diretamente em Inhotim tem sido feito um controle bastante intenso. É fato que nós não temos nenhum caso ainda de contaminação entre os nossos funcionários. Outra parte, que trabalha em home office tem outro procedimento, mas o Inhotim não pode abrir mão dessa manutenção, porque somos um jardim e a manutenção dele é muito importante”, contou.
Já as equipes dos setores administrativos estão em trabalho remoto para garantir a continuidade de projetos socioeducativos, de captação de recursos, e de comunicação com o público.Divulgação/William Gomes
Prevenção
A reabertura será com horários modificados. Antes da pandemia, o funcionamento era de terça a domingo, mas passará a ser de sexta a domingo e nos feriados. Os horários foram mantidos. Às sextas-feiras, das 9h30 às 16h30, e até 17h30 nos outros dias.
Das 5 mil pessoas recebidas diariamente antes da pandemia, o limite de público será de 500, com ingressos obtidos on-line antecipadamente. Não serão permitidas visitas em grupos no formato de excursões até que a situação esteja em patamares mais seguros.
Já as visitas educativas permanecem, mas dentro de medidas segurança, como a redução de 20 para 5 no número de participantes, uso de máscara, priorização de espaços abertos e troca de uniforme dos mediadores após o atendimento. Para organizar os roteiros de visitação ao parque, a circulação vai ter divisão por eixos nas cores laranja, rosa, amarela, que será alternada em turnos da manhã e da tarde.Eduardo Eckenfels/Divulgação
Haverá ainda redução dos intervalos dos serviços de limpeza, principalmente, dos banheiros, com controle rígido de higienização; monitoramento de possíveis focos de filas e aglomerações; disponibilização de álcool em gel a 70% em todas as galerias; marcações no chão para a distância mínima de 1,80m entre pessoas; delimitação de lugares nos assentos; e sinalização de fluxo de pessoas.
Restaurante
O atendimento self-service será substituído por serviço à la carte ou buffet com atendimento individualizado e o distanciamento entre as mesas é de 1,80m. Os guardanapos serão descartáveis e não haverá dispenser de temperos e condimentos.
Para Grassi, o Inhotim é também um ótimo cenário para os visitantes reduzirem o estresse provocado pela pandemia. “Criamos uma série de protocolos desde limitação de lotação a procedimentos internos. A gente tem trabalhado também neste caminho, porque acredita que pós-quarentena as pessoas estarão muito necessitadas, aliás, já estão, de um contato com a natureza, com o meio ambiente e com a arte. Tudo aquilo que o Inhotim tem em abundância. Nesse sentido que a gente tem trabalhado. Nós somos um jardim botânico que abriga um enorme museu de arte contemporânea a céu aberto. O fato de ser também a céu aberto e ser um jardim botânico contribui muito para que a gente possa ter um procedimento de reabertura diferente de espaços fechados e museus tradicionais”, completou.William Gomes/Divulgação
Quarentenas
A pandemia do novo coronavírus (SARS CoV-2) provocou a terceira paralisação, nos últimos anos, das atividades do espaço, que além de museu é também um jardim botânico. Antonio Grassi lembrou que, em 2018, por causa da febre amarela, a visitação foi suspensa durante um período e na volta o Instituto passou a exigir o cartão de vacinação do visitante. “A frequência caiu muito e tivemos que trabalhar muito efetivamente para recuperar o fluxo normal”, revelou.
Em janeiro de 2019, a parada foi causada pelo rompimento da barragem de rejeitos da Mina Córrego do Feijão. Naquele momento, embora o Instituto não tenha sido atingido pelo desastre ambiental, havia a preocupação com os visitantes e funcionários; muitos deles moradores de Brumadinho e que tiveram perdas de pessoas da família e amigos. O medo de que um novo rompimento também afastou o público e foi preciso fazer uma campanha para incentivar a volta dos visitantes, quando o espaço foi reaberto. “Assim como nas anteriores, a nossa expectativa é de que a gente consiga também dar a volta por cima e superar essa questão”, disse.
Para Grassi, neste momento a situação foi agravada pela falta de uma vacina e da cura da doença e pelo medo que as pessoas têm de sair à rua. O impacto no orçamento do Inhotim foi grande nas três quarentenas e agora o Instituto tem feito uma busca forte de captação de recursos. “Assim como todas as instituições pelo mundo, a gente sofre um impacto grande, porque as prioridades dos investimentos e patrocínios são para a área de saúde, como é coerente e é de se esperar. Então a gente está trabalhando para recuperar esses investimentos”, contou, acrescentando, que ainda não foi feito um cálculo do impacto, mas o Instituto já precisou lançar mão de reservas que tinha conseguido alcançar.
“A gente sempre está tentando se equilibrar, mas a manutenção de uma instituição artístico-cultural não só no Brasil, mas no mundo inteiro, é muito difícil. Inhotim é um espaço ímpar. Não é apenas a atuação museológica. A ideia de ser um parque mais aberto amplia as possibilidades e também o turismo é muito importante para nós”, afirmou.