Na terra não como nos céus

02/02/2018 às 13:58.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:06

 Num momento em que tantas notícias ruins tiram de nós o orgulho de sermos brasileiros, uma, em especial, mostrou que nem tudo está perdido: as conversas iniciadas em 2017 para um acordo entre a Boeing, maior fabricante de aviões comerciais do planeta, e a Embraer, sediada em São José dos Campos e fruto da insistência e do talento de homens comandados pelo craque Osíris Silva. Tudo indica que, por questões estratégicas (o governo federal tem direito a veto), não haverá venda de parte do controle, mas muito provavelmente um estreitamento de uma parceria que já existe. Hoje, é bom dizer, os jatos “made in Brazil” voam pelos quatro cantos do mundo e são populares inclusive entre as principais companhias norte-americanas, normalmente avessas a tudo o que vem de fora.

Eu sei, você deve estar pensando o que as aeronaves têm a ver com este espaço. Mas eu explico: enquanto somos referência mundial nos céus, seguimos nosso rumo no chão incapazes de desenvolver uma indústria tão competente quanto.

Compramos carros alemães, italianos, franceses, norte-americanos, japoneses, sul-coreanos e agora chineses, sem sermos capazes de propor um modelo (de negócios) brasileiro. JK, quando quis os 50 anos de desenvolvimento em cinco, preferiu atrair quem tinha a fórmula pronta, muito embora a Fábrica Nacional de Motores (FNM) tenha sido uma tentativa válida. Ela e os vários projetos de craques como Anísio Campos e Rino Malzoni; a Gurgel, sonho do engenheiro de mesmo sobrenome que quase conseguiu, com o BR-800, ter um modelo 100% verde e amarelo. Até mesmo Eike Batista, com a JPX, tentou, sem grande sucesso. E a Troller, que mais se aproximou do ideal, acabou encampada pela Ford.

Pode até ser uma grande bobagem, mas seria interessante ver do que somos capazes de fazer sobre rodas. Dos países do BRICs (Rússia, Índia e China completam a lista), somos os únicos que não produzimos com nenhuma marca própria de grande porte. E pensar que os sul-coreanos há quatro décadas não eram ninguém no mercado, enquanto a China só fabricava modelos antiquados e rústicos.

A essa altura de nossa indústria, com tantas “imigrantes” instaladas e a abertura às exportações, vamos ficar mesmo no sonho. O que é uma grande pena, considerando do que somos capazes de fazer com os mais pesados que o ar. Mesmo não tendo inventado o automóvel ou a moto, teria saído coisa boa.

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