(Marcelo Prates)
Mudanças radicais costumam ser de difícil adaptação. Quando diluídas pelo tempo, se desenham como uma evolução natural, quase imperceptíveis à maioria das pessoas. No último quarto de século, o esporte se transformou em um novo produto, muito distante de um mero modo de entreter as massas.
Foi dos ingleses, com sua bagagem revolucionária, o pontapé para a transformação do esporte em um dos negócios mais lucrativos do planeta. Dona de uma liga de futebol arcaica, em 1988, a Inglaterra mostrou ao mundo, nos últimos 25 anos, como faturar alto com a modalidade mais popular do planeta.
O primeiro passo para essa revolução veio com os direitos de transmissão das emissoras de televisão. O segundo foi a transformação dos estádios num agradável shopping center para os torcedores, que passaram a ser tratados com mais respeito, desde que estivessem dispostos a pagar por isso.
A evolução também gerou efeitos colaterais. O esporte se tornou menos democrático e perdeu um pouco da graça, muitos reclamam. Mas se tornou um produto tão valioso quanto uma mina de diamantes ou um estacionamento na Região Central de Belo Horizonte.
No Brasil, essa revolução veio à força, como a maioria das mudanças nos países em que velhos coronéis insistem em se agarrar ao poder. É inegável que a estabilidade econômica transformou o país em uma potência sul-americana. Prova disso é o fato de que, nas últimas dez edições da Copa Libertadores, os clubes brasileiros estiveram por nove vezes na decisão e conquistaram cinco títulos.
A realização da Copa do Mundo, em 2014, e das Olimpíadas, dois anos depois, é um outro claro sinal do poder que o Brasil conquistou na esfera esportiva. Porém ainda falta muito em comparação com o “Primeiro Mundo”.
Os dois principais eventos esportivos do planeta seriam a plataforma perfeita para a evolução definitiva. Mas não serão. Ainda falta aos responsáveis pelo esporte no país entenderem que não é mais possível tratar o torcedor como uma parte ínfima de algo maior.
Nos próximos anos, os dirigentes terão como desafio colocar o torcedor em primeiro plano, e isso não significa “apenas” ter jogadores como Ronaldinho Gaúcho e Neymar nos gramados nacionais. Significa, acima de tudo, oferecer ao público conforto, comodidade no transporte e segurança nos estádios e seus arredores. Uma missão difícil, mas imprescindível para transformar o Brasil em uma verdadeira potência mundial.
Foto: Carlos Roberto/Hoje em Dia
A nova "menina dos olhos" do esporte nacional
Nos últimos 25 anos, o Brasil viu surgir um fenômeno no esporte nacional e mundial. O vôlei brasileiro se transformou em potência e só perde em popularidade para o futebol. A semente foi plantada em 1984, nas Olimpíadas de Los Angeles, quando o Brasil ficou com a medalha de prata.
A partir de 1992, quando a seleção masculina surpreendeu e alcançou o ouro nos Jogos de Barcelona, o time conquistou, entre outros tantos títulos, mais dois ouros e uma prata em Olimpíadas. As meninas não ficam atrás, com dois ouros e dois bronzes olímpicos.
Ascensão e queda da modalidade que conquistou o país
Em 1988, nada parecia ameaçar a supremacia brasileira na Fórmula 1. No dia 30 de outubro, um novo reinado tupiniquim começou, quando Ayrton Senna venceu o GP do Japão e, pela primeira vez, o Mundial de Pilotos. Senna faturou mais dois títulos, em 1990 e 1991.
Em 1994, trocou a McLaren pela Williams, no que prometia ser a retomada ao primeiro lugar do pódio. No entanto, no dia 1º de maio, um acidente tirou a vida de um dos maiores ídolos nacionais.
O Brasil nunca mais foi o mesmo na F-1. As esperanças se voltaram para o jovem Rubens Barrichello, que nunca saiu da sombra do alemão Michael Schumacher.
Depois, foi a vez de Felipe Massa tentar levar o país ao título. A bordo da Ferrari, ele chegou perto em 2008, mas um acidente no ano seguinte o tirou do primeiro escalão da categoria. Desde a morte de Senna, 13 pilotos brasileiros, incluindo o baiano Luiz Razia, que estreia neste ano, entraram num cockpit na F-1, sem sucesso.
De volta ao topo do mundo
O dia 16 de julho de 1989 entrou para a história como o primeiro passo do Brasil no retorno ao topo do futebol mundial. Diante de mais de 130 mil torcedores, Romário marcou, aos 4 minutos do segundo tempo, o gol que garantiu à Seleção a vitória sobre o Uruguai, na decisão da Copa América, encerrando jejum de títulos expressivos que durava desde o tri mundial, no México, em 1970.
A geração que voltou a conquistar uma taça importante, após longos 19 anos, ainda amargou um fracasso, na Copa da Itália, em 1990, mas foi também a responsável por pintar o planeta de verde e amarelo.
Em 1994, comandado por Carlos Alberto Parreira, o combinado nacional voltou a vencer a Copa do Mundo, nos Estados Unidos. Oito anos depois, bateu a Alemanha, na final da Copa da Coreia do Sul e Japão, sagrando-se hexacampeão.
Nos últimos 25 anos, a Seleção ainda conquistou, por cinco vezes, a Copa América e, por três, a Copa das Confederações, consolidando-se como equipe mais vitoriosa do futebol mundial.