Nem Noel salva a indústria

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
06/11/2016 às 07:42.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:32
 (Tecnometal)

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No que depender da indústria, a retomada do crescimento econômico ainda vai demorar para acontecer. O setor registra perdas há pelo menos dois anos e a expectativa de recuperação no segundo semestre de 2016 não se confirmou, como previam os mais otimistas. Nem mesmo os pedidos do Natal, que eram a esperança de aquecimento no último trimestre e reduziram 10% na comparação com o ano anterior, foram suficientes para impedir o fechamento no vermelho. Pelo contrário, os índices de emprego, faturamento e utilização de capacidade instalada voltaram aos mesmos patamares de uma década atrás.

O receio generalizado de consumidores, lojistas e empresários da indústria diante de uma situação financeira já debilitada contribuem para que o setor continue rolando ladeira abaixo. Para especialistas, o nível de endividamento elevado atrapalha a tomada de decisão dos compradores mesmo com uma inflação em declínio. Da mesma forma, o comerciante e o industrial pisam no freio para evitar que estoques continuem elevados, completando o ciclo de estagnação. 

Emprego

Os reflexos no emprego são evidentes. No acumulado dos 12 meses terminados em setembro a indústria da transformação fechou mais de 461 mil postos de trabalho no país, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Em todo setor produtivo, mais de 1,5 milhão de vagas foram extintas no mesmo período.

Para o economista Marcelo Azevedo, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), é pouco provável que a recuperação aconteça de forma acelerada. “A natureza dos problemas que temos enfrentado e a longevidade deles vai dificultar a recuperação. Ainda há ociosidade grande e o empresário não vai investir tendo um terço de suas máquinas paradas. O próprio índice de confiança que vinha melhorando muito, não melhorou tanto em outubro”, avalia.

Exportações

Com a valorização do real frente ao dólar, o aquecimento da indústria pela via das exportações também perde força, uma vez que os produtos brasileiros se tornam mais caros no mercado externo. 

Em outubro, as vendas externas brasileiras alcançaram US$ 13,7 bilhões, de acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic). Na comparação com o mesmo período do ano anterior, houve recuo de 10,2%, e de 8,8% em relação a setembro de 2016.

Em Minas, a capacidade produtiva da indústria despencou puxada principalmente pelos setores de máquinas e equipamentos, automotivo e extrativo mineral. No faturamento, o recuo nos últimos 12 meses já é de 14,3%, segundo dados da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

No acumulado do ano até setembro, o setor de veículos automotores registrou sozinho uma queda de 41,8%, a maior variação negativa do período seguindo uma tendência que se repete desde o mês de janeiro. No mesmo período, a retração no licenciamento de veículos foi de 22,8%. 

Segmento ainda sofre com a falta de investimentos

Se os indicadores de queda da atividade industrial já são preocupantes, a situação é ainda pior quando considerada a ausência de investimentos no setor. Dados do Instituto Econômico de Pesquisa Aplicada (Ipea) apontam que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), indicador que funciona como termômetro da indústria, teve redução de 2,2% em setembro na comparação com o mês anterior. É o terceiro recuo mensal consecutivo.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, a FBCF caiu 10,6%. Já no terceiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, o investimento registrou redução de 9,9%.

“O recuo dos investimentos no terceiro trimestre reforça a expectativa de uma recuperação lenta da economia brasileira”, afirma o técnico de planejamento e pesquisa do Ipea Leonardo Mello de Carvalho, que pertence ao Grupo de Conjuntura do Instituto. 

O setor de máquinas e equipamentos foi um dos mais afetados pelas perdas da indústria sobretudo pelo corte dos investimentos. A queda no faturamento real do segmento foi de 25,3% no acumulado do ano até setembro, ficando atrás apenas do setor automotivo. 

O presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos em Minas Gerais (Abimaq-MG), Marcelo Veneroso, explica que a situação reflete a dependência do Estado de atividades como mineração e siderurgia, ambas atingidas pela queda nos preços internacionais das commodities. 

Continuamos em queda, em proporção menor do que no ano passado, mas ainda registrando números negativos. Para esse resto de ano, não há nada que indique melhora. Houve um viés de otimismo com a troca de governo, mas o novo governo não tomou ainda nenhuma decisão que faça os investimento acontecerem para colocar novos pedidos na indústria de máquinas.ARTE / N/A

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