Com o mercado interno derretendo, exportar virou questão de sobrevivência para uma série de empresas. Especialmente em Minas, onde a economia tem por base a produção de commodities minerais, metálicas e agrícolas, facilmente exportáveis.
Commodities são todas as mercadorias com características padronizadas, cotadas internacionalmente e comercializadas por grandes tradings (distribuidoras). Soja, minério e aço, por exemplo, são commodities. Quando chegam à China, são vendidas ao preço indicado pela cotação, não importando onde foi produzida ou por quem.
Desde o início do último trimestre do ano passado, as empresas que trabalham com commodities foram brindadas com a primeira alta consistente e generalizada de preços no mercado internacional. Foi um alívio depois de quase três anos de depressão. Mas a alegria durou pouco. A recente queda do dólar colocou a perder todo o ganho da valorização.
Vejamos alguns números. O dólar bateu o pico da última onda de valorização em 2 de dezembro, quando chegou a R$ 3,52. De lá para cá, entrou em rota de desvalorização forte e continuada, descendo a R$ 3,13 no início desta semana, um tombo de 11,1%.
Já a soja produzida no Triângulo, no Alto Paranaíba ou no Noroeste de Minas era vendida a US$ 347 a tonelada na China no início de setembro, subindo para atuais US$ 380, uma alta de 9,5%. Nesse mesmo intervalo, o minério de ferro saiu de US$ 74 a tonelada para US$ 81, valorização de 9,4%.
Ou seja, o aumento dos preços internacionais foi perdido pelos produtores em função da desvalorização do dólar. O impacto é semelhante para produtores de café, fabricantes de aço, de gusa, de ferro-ligas, de celulose, de açúcar, que representam cadeias estruturantes da economia estadual. Todos que planejavam exportar para aproveitar o bom momento de preço das commodities e compensar o encolhimento do mercado interno viram seus planos frustrados.
E o pior é que esse descompasso entre oportunidades externas e câmbio é uma novela reprisada inúmeras vezes. Foi assim no grande boom das commodities no pré-crise de 2008, quando o governo Lula não teve a sensibilidade de turbinar os bons ganhos dos exportadores, que poderiam ter sido extraordinários. E foi assim na grande desvalorização do dólar no governo Dilma, que não compensou a enorme perda de valor das commodities. Está, novamente, sendo assim com Temer.
Não é segredo que o câmbio flutuante, comandado pelo mercado, é uma ficção. O governo é quem determina os parâmetros de flutuação da moeda americana comprando e vendendo contratos em moeda estrangeira no mercado futuro (contratos de swap). Se existe desajuste no câmbio, o Banco Central é o responsável.
São três os motivos para a recente valorização do real. A primeira, o mercado internacional ainda muito líquido e disposto a correr o risco de investir nos países emergentes como o Brasil, forçando a entrada de dólares. A segunda, a inapetência (ou inaptidão) do governo para enxugar o mercado, comprando dólares. E o terceiro, a opção clara da equipe econômica de privilegiar bancos e rentistas em desfavor da produção.
Bancos ganham sempre, qualquer que seja a direção da moeda americana, mas perdem quando há mudança brusca de rumo. Entre a produção e os bancos, o ex-banqueiro e ministro da Fazenda Henrique Meirelles sempre ficará com a segunda opção.