Nem só de estreias vivem os grandes festivais, e até Cannes, a maior vitrine de novos filmes do mundo, tem espaço para a recuperação, o restauro, de clássicos. O Rio também exibiu suas relíquias - "Dr. Mabuse", 1 e 2, mostrando como Fritz Lang já era bom em suas origens. Mas, na quarta-feira, o tapete vermelho foi para a restauração de um clássico nacional.
No sábado, em plena feijoada do Festival do Rio, Alice Gonzaga comemorava o sucesso da restauração do filme famoso de Oduvaldo Vianna, em 1936. Alice é filha do pioneiro Adhemar Gonzaga, da Cinédia, e o lendário estúdio produziu a história inicialmente prevista para Carmem Miranda. Quando a pequena notável, presa a outros compromissos, desistiu do papel, Gilda de Abreu o assumiu e outro roteiro foi formatado para ela.
Com Carmem, o filme teria sido outro com certeza, mas o curioso é que a "Bonequinha" de Oduvaldo Vianna - pai de Vianinha, o ator e autor de teatro e TV - antecipa em quase 20 anos um clássico romântico de Billy Wilder. Lembram-se de "Sabrina", com Audrey Hepburn? A filha do motorista da família de milionários que volta sofisticada de Paris, a ponto de seduzir os patrões que desconheciam sua existência?
A bonequinha é Marilda, que também volta mudada de Paris. Todos se perguntam quem é essa mulher que dita a moda - que as mulheres invejam e os homens desejam? Marilda é uma ficção de si mesma, pois, de repente, explode a revelação. Ela nunca esteve na França. A interrogação fica mais forte ainda - quem é Marilda? O restauro digital de "Bonequinha de Seda" é uma parceria da Cinédia com o Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro de Myrna Brandão. A Petrobras tem sido parceira de outros restauros do CPCB, e, aqui, como em outras iniciativas do gênero, o papel de Hernani Heffner é fundamental. É o curador do acervo da Cinédia e uma autoridade mundial em restauração.
A grande questão é - o Festival do Rio tem exibido obras restauradas (filmes brasileiros) que, após a gala no Odeon, circulam por outros eventos de cinema, mas não voltam ao circuito. "Bonequinha de Seda", como "O Ébrio", de Gilda de Abreu, que terás novo restauro, poderiam quebrar essa escrita. "Bonequinha" foi um fenômeno brasileiros dos anos 1930. Chegou a ser exportado para exibições em outros países. Conhecer a obra pode ajudar no debate e compreensão da produção brasileira dos anos 1930. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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