Nosso cinema na 17ª Mostra em Tiradentes

Hoje em Dia
02/02/2014 às 07:20.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:44

A 17ª Mostra de Cinema de Tiradentes, que começou no dia 24 de janeiro e terminou neste sábado (1°), é uma demonstração do impacto de uma atividade cultural na vida de uma cidade. Com pouco mais de 7 mil moradores, esta cidade histórica mineira, que soube preservar sua arquitetura, recebe, durante o festival, mais de 35 mil visitantes que assistem a filmes de graça, mas deixam em Tiradentes centenas de milhares de reais como pagamento de hospedagem e alimentação.   E que representam o mais importante para os realizadores de filmes independentes – aqueles que não vivem dos recursos das leis de incentivo à cultura: um público interessado, que não se conforma em apenas assistir aos filmes estrangeiros que dominam as salas de cinema no Brasil.   As modernas tecnologias permitem uma produção independente por quem tem paixão pelo cinema e não se apega ao dinheiro. A tecnologia digital, mais barata, possibilitou que as dispendiosas películas estivessem ausentes, pela primeira vez, da Mostra de Cinema de Tiradentes.    Esse festival, idealizado e dirigido por Raquel Hallak, se transformou numa plataforma de lançamento de filmes como “A Mulher que Amou o Vento”, longa-metragem da mineira Ana Moravi, e um dos sete selecionados neste ano para a competição Aurora, quatro deles feitos em Minas. E que serão vistos em São Paulo, entre 24 e 30 de março, quando será realizada a segunda edição itinerante do evento organizado pela empresa de Raquel, a Universo.    Essa empresa, ao contrário dos que fazem aqueles filmes, depende de recursos das leis de incentivo à cultura, federal e estadual. É uma maratona que se repete a cada ano para obter a autorização e correr atrás de patrocinadores. Seria menos cansativo se a autorização valesse pelo menos por dois anos.   Recentemente, viu-se em Belo Horizonte a dificuldade de um produtor de cinema para obter junto à BHTrans autorização para fechar uma via na Praça da Liberdade para uma filmagem, que acabou tendo que ser feita em outra cidade. O trânsito de veículos tem prioridade, na visão da empresa – e não só dela. Falta uma política pública para a produção independente e para a abertura de salas de cinema do circuito de arte.    A verdade é que a indústria de cinema não é levada a sério no Brasil, que se deixou invadir pelas produções estrangeiras, sobretudo dos Estados Unidos. Tanto é verdade, que existe desde 1988, com sede no Rio, um Sindicato Interestadual dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e do Audiovisual, cuja carta sindical abrange todos os estados do Norte, Nordeste e, no Sudeste, Minas, Espírito Santo e Rio de Janeiro. E poucos ouviram falar dele, tal a importância que tem.   Se prestarem atenção a Tiradentes, os governantes vão descobrir que o cinema importa, sim, para que o país se torne de fato independente. 

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