(Reprodução/Internet)
O recente e inesperado anúncio do lançamento pelo Banco Central, já em agosto, da nota de R$ 200, que deve ser estampada com a imagem do lobo-guará - animal que habita o cerrado brasileiro e está sob risco de extinção -, gerou inúmeras piadas e observações curiosas, como a que mostra que a tal cédula foi mais uma das acertadas previsões do desenho animado "Os Simpsons", em episódio de 2014.
Também não faltaram comentários maliciosos nas redes sociais, até mesmo entre economistas. Um deles foi o ex-secretário do Tesouro Nacional Marcos Cintra, que publicou alguns questionamentos em sua conta no Twitter: "Qual o objetivo do governo ao criar a nota de R$ 200 e assim estimular o uso de dinheiro vivo? Facilitar a vida do assaltante? Tirar recursos dos bancos? Economizar espaço?".
Além de memes com sugestões de outras figuras emblemáticas do atual cenário nacional para ilustrar a cédula - a lista vai da ema que bicou o presidente Bolsonaro à cantora Pabllo Vittar -, houve ainda insinuações de que o objetivo da nota poderia ser "fazer a inflação voltar" ou favorecer a corrupção, já que mais dinheiro ocupará menos espaço (veja a galeria).
Fato é que o Banco Central justificou a medida com base em um aumento da demanda por papel-moeda no país, desde o início da pandemia da Covid-19. Segundo o órgão, entre março e julho, houve elevação de R$ 61 bilhões no "entesouramento" de moeda - ou seja, notas que pararam de circular porque a população deixou o dinheiro em casa.
Para a diretora de administração do BC, Carolina de Assis Barros, embora ainda não haja falta de numerário no mercado, seria oportuno fazer o lançamento da nova cédula, até como medida preventiva, para melhorar o fluxo de dinheiro em papel.
“Estamos vivendo um período de entesouramento, efeito derivado da pandemia. O Banco Central, neste momento, não consegue precisar por quanto tempo os efeitos do entesouramento devem perdurar”, disse a diretora.
Carolina também afirmou que a imagem da nota de R$ 200 ainda não está disponível porque está na fase final de testes de impressão. O lançamento está previsto para o final de agosto. Segundo o BC, a tiragem em 2020 será de 450 milhões de unidades, equivalentes a R$ 90 bilhões.
Análise
Para o economista Eduardo Coutinho, professor do Ibmec, em Belo Horizonte, a decisão do BC atende, de fato, a uma situação circunstancial, relacionada aos efeitos econômicos do novo coronavírus. Ampliaram-se as transações em papel moeda, e isso teria levado o Conselho Monetário Nacional a perceber a necessidade de criação da nova cédula.
"Não há muito o que fazer. A decisão das pessoas de reter dinheiro em papel é autônoma, fruto do momento que estamos vivendo", explicou Coutinho. "E, com a queda no emprego formal nos últimos meses, consequentemente houve aumento das atividades informais. Portanto, é normal que que as pessoas estejam usando mais dinheiro e menos meios eletrônicos de pagamentos", completa.
O economista ressalta ainda que a emissão das notas de R$ 200 não impulsionará o processo inflacionário, como muitos leigos possam supor. "A intenção é viabilizar que as pessoas portem valores maiores com menos notas, atendendo questão de natureza prática. Concretamente, não há qualquer relação entre a criação da nova cédula e a inflação", garante.