Nova década perdida?

12/06/2016 às 19:26.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:52

Já existem cenários robustos elaborados por especialistas nacionais e internacionais que, à semelhança do que ocorreu nos anos 1980, sinalizam a chegada de mais uma década perdida no processo de desenvolvimento brasileiro. O indicador mais relevante desses cenários mostra que o PIB per capita dos brasileiros em 2020 poderá ser quase igual ao seu PIB per capita de 2010, um contexto típico de estagnação ou de retrocesso econômico decenal.

Sabemos que cenários não são projeções econômicas, mas mapas de possibilidades de que eventos relevantes poderão ocorrer, mas sem que se possa precisar quando e como poderão ocorrer com maior grau de probabilidade. Cenários são particularmente úteis para contextos de rápidas mudanças. Isto porque quando um sistema experimenta uma profunda descontinuidade no seu comportamento podem ocorrer mudanças abruptas e potencialmente catastróficas. Os exemplos tradicionais são as corridas aos bancos em função de uma crise financeira ou o colapso de grandes camadas de gelo em função das mudanças climáticas. São pontos críticos de descontinuidades ou de irreversibilidades com grandes transformações nas trajetórias de evolução de eventos estruturais (tipping points).

Contudo, não precisamos recorrer a futuros caóticos para mostrar as chances de que os anos 2010 poderão entrar na história econômica e social do país como uma década perdida para o nosso progresso e bem-estar da população. Futuros caóticos são alguns eventos altamente ou totalmente imprevisíveis e incontroláveis como, por exemplo, a economia mundial passar, nos próximos anos, de um crescimento lento para uma profunda recessão com impactos adversos sobre nossas exportações, financiamentos externos e crescimento.

Na verdade, podemos considerar o futuro como uma extensão ou projeção do passado recente quando há restrições e condicionalidades dominantes na configuração do que pode ocorrer com as principais variáveis macroeconômicas nos próximos anos. O crescimento médio da economia brasileira no primeiro mandato de Dilma Rousseff, de 2011 a 2014, foi de 2,2% ao ano. Entre os presidentes que governaram o país desde 1985, a maior média anual foi do mandato de Itamar Franco quando o PIB cresceu 5,4% ao ano.

As taxas de crescimento de 2016 e 2017 serão sensivelmente negativas como a de 2015, que foi negativa em 3,8%. É provável que, no início da nova administração do Governo Federal pós-eleições de 2018, tenhamos um biênio de baixo crescimento por causa das defasagens intertemporais das eventuais reformas econômicas e político-institucionais que deverão ocorrer. Essas defasagens correspondem ao tempo econômico e ao tempo político-administrativo necessários para que expectativas, aspirações e correções de distorções passadas possam vingar.

Usualmente, os economistas têm se equivocado nos resultados de seus cenários sobre o futuro da economia. Entretanto, esses equívocos se atenuam quando o julgamento informado pela experiência profissional gera resultados previsíveis, mesmo que não sejam facilmente antecipados ou calculáveis. Principalmente quando se observa a incapacidade política dos governantes em realizar uma gestão eficaz dos conflitos de interesses entre grupos e classes sociais numa economia que se derrete em um processo recessivo e que corre o risco de caminhar para uma profunda depressão até 2018.

© Copyright 2024Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por