Oitenta trabalhadores rurais que ajudavam a organizar ocupações de terra em 12 estados se reuniram em Cascavel, no Paraná, entre os dias 20 e 22 de janeiro de 1984, no 1º Encontro Nacional dos Sem Terra. O evento marcou o ponto de partida para a criação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, que 30 anos depois realizou nesta semana, em Brasília, o 6º Congresso Nacional do MST, com a participação de 16 mil militantes.
Na quarta-feira, depois de um grupo do MST ter tentado, sem êxito, invadir o Supremo Tribunal Federal, foi promovida manifestação em frente ao Palácio do Planalto que terminou em confronto com a Polícia Militar e com 32 pessoas feridas. No dia seguinte, líderes dos sem terra foram recebidos pela presidente Dilma Rousseff, a quem entregaram uma carta. Entre várias reivindicações, pediam o assentamento de 100 mil famílias neste ano.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, do PT gaúcho, ao sair da reunião, disse que serão assentadas até dezembro entre 30 mil e 35 mil famílias. Segundo a carta do MST, “a média de famílias assentadas por desapropriações foi de apenas 13 mil por ano, a menor média após os governos da ditadura militar”. Esta terminou um ano depois da fundação do MST, após a vitória de Tancredo Neves nas eleições indiretas para presidente.
Pepe Vargas, que vai deixar o ministério até o fim deste mês, disse que nos últimos três anos foram assentadas 75 mil famílias e que a meta para este ano é conseguir vistoriar 1 milhão de hectares para novos assentamentos. Apesar de negar paralisia na política nacional de reforma agrária, ele não consegue apresentar valores relevantes nessa área.
O ministro teve mais sucesso no incentivo à agricultura familiar. Em 2013, foram destinados R$ 18,6 bilhões em crédito a agricultores familiares, para o custeio da safra, a compra de máquinas agrícolas e outros investimentos. Para o governo, é também satisfatório o desempenho da agricultura comercial e da agroindústria.
Chegou o momento de o MST mudar um discurso que fazia sentido na década de 1980, mas não agora. Quando começou, mais de 30% da população brasileira ainda viviam na zona rural e milhares queriam permanecer ou voltar para o campo. Atualmente, a população rural não chega a 16% e tende a reduzir ainda mais, devido ao baixo índice de desemprego nas cidades.
Em vez de tentar ampliar o número de acampamentos e, em consequência, os conflitos com os fazendeiros, o MST poderia intensificar sua luta por melhores condições de vida para as famílias que já deixaram de ser sem terra. Por exemplo, cobrando o cumprimento da promessa da presidente Dilma de inclusão de famílias assentadas no Pronatec, o programa de ensino técnico, e de destinar aos assentados mais recursos do Programa de Aquisição de Alimentos.