‘O brasileiro ainda não conhece a Nissan’, afirma Ronaldo Znidarsis

Marcelo Ramos - Hoje em Dia
14/11/2015 às 10:28.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:28
 (Lucas Prates/Hoje em Dia)

(Lucas Prates/Hoje em Dia)

Com mais de 25 anos de experiência na indústria automotiva global, o vice-presidente de Vendas e Marketing da Nissan do Brasil, Ronaldo Znidarsis, acredita que, para a marca japonesa crescer ainda mais no Brasil, é fundamental se tornar realmente conhecida do consumidor brasileiro e ganhar sua confiança.

Com passagem pela Volkswagen, como líder de Desenvolvimento de Novos Negócios, baseado em Wolfsburg, Alemanha, também atuou por anos na General Motors Corporation em países como Venezuela, Coréia do Sul, Singapura, China e da Europa, entre outros. Formado em economia pela Universidade Mackenzie, em São Paulo, Znidarsis possui mestrado em Gestão pela Universidade de Boston.

Nesta entrevista, o executivo fala sobre a presença da Nissan no Brasil, sobre nosso mercado e sobre a possibilidade de a picape Frontier ter outra fábrica.

AUTO PAPO – Fale um pouco sobre como está a participação da Nissan no mercado brasileiro.

RONALDO ZNIDARSIS – O que a gente tem ressaltado bastante é o DNA japonês. Quando você fala em DNA japonês, você associa de imediato: qualidade, tecnologia, confiabilidade.
Nós somos uma marca japonesa, os brasileiros ainda não conhecem bem essa nossa marca. Então, o nosso pilar principal é manter esse DNA japonês investindo muito forte em qualidade. Não estamos preocupados em participação de mercado, em volume. A gente está preocupado em atender bem o cliente, em fazer os veículos com qualidade porque estamos plantando uma semente. Com essa consistência na qualidade, no tratamento do cliente na venda e pós-venda, os resultados, a participação e o volume virão.
O mineiro é desconfiado por natureza. Nós temos que fazer um trabalho de base e passo a passo, ir conquistando a confiança do povo mineiro. E acho que com um grupo que já tem uma reputação, tem um nome estabelecido no mercado, com a qualidade, com os processos da Nissan, nós vamos chegar lá.

Qual é a dificuldade para se estabelecer no mercado brasileiro?

Nós estamos competindo com marcas que tem 70, 90 anos no Brasil. Nós somos um neném. A marca está aqui desde 2001, 2000, então tem 14, 15 anos, mas na verdade nós estamos começando o trabalho de consistência faz um ano e meio, com a construção da fábrica. Fizemos um investimento enorme em uma fábrica, fizemos um investimento enorme em um centro de distribuição de peças para podermos atender com qualidade esses clientes. Então agora estamos estabelecendo os pilares para darmos esse passo a frente. Uma empresa japonesa não pensa no hoje, não pensa no amanhã, ela pensa pra daqui 100 anos. Essa é a nossa visão.
Fale um pouco sobre a fábrica brasileira da Nissan.
Nós temos uma fábrica hoje que tem capacidade para fazer 220, 250 mil veículos. Com a situação de mercado atual, nós vamos atender tranquilamente o mercado nacional, com qualidade, e já estamos trabalhando para exportar. Então nós vamos utilizar a base do Brasil para atender a América Latina.

A Nissan está bem representada no mercado brasileiro?

Com esses quatro produtos oferecidos no Brasil – três nacionais e um importado –, nós atingimos os dois seguimentos de maior volume, que é o hatch e o sedã, e atingimos também o setor de picape e o setor de sedãs médios. Então, nós estamos bem representados no Brasil, nós atingimos uma grande gama. O problema nosso não é o portfólio. O problema é de notoriedade. O brasileiro simplesmente não conhece a Nissan. Por isso nosso slogan: “Quem se atreve vai além”. Quem testa o carro se impressiona, gosta e compra. Então nossa preocupação hoje não é ampliar gama, é fazer com que a gama fique conhecida. Se perguntarmos para o mineiro em geral quais sãos os carros da Nissan vendidos no Brasil, ele não sabe.

O que o senhor tem a dizer sobre a fabricação da picape Frontier na Argentina.

A pergunta que estamos nos fazendo agora é se vale a pena manter a atual, se vale a pena complementar com aquela, se tem espaço para as duas fábricas, ou se podemos utilizar esse espaço de produção daqui para algum outro produto. Estamos fazendo estudos para ver o que é melhor. Definitivamente, vamos aproveitar do Mercosul e ir trazendo picapes de lá e vamos também poder exportar veículos para lá. Então, tem essa vantagem. De qualquer maneira, vai ter produto brasileiro indo pra lá e a picape com certeza vai vir pra cá também.

Há conversas de bastidores que falam sobre a Nissan trazer um SUV para o Brasil. O que há de verdade nessa história?

Nós estamos analisando, não posso adiantar nada, mas obviamente nós estamos olhando o mercado. Nós temos o portfólio, a Nissan – ainda não no Brasil, mas em nível mundial – é muito forte no segmento de SUV e monocab, então estamos analisando. Nós acreditamos no Brasil. A gente não está aqui por momento: nós estamos aqui para o futuro e obviamente a gente vai continuar trabalhando para enriquecer o nosso portfólio. Apesar de que o nosso maior desafio hoje não é o portfólio. O nosso maior desafio é que o brasileiro se atreva e venha conhecer a Nissan.
Somos uma das poucas marcas hoje que está crescendo em participação de mercado. Isso prova que estamos na direção correta. O mercado desabando e a gente crescendo. Fizemos um investimento para o longo prazo. Estamos vivendo, como todos, um momento difícil. Mas, passo a passo, não temos 40 mil pessoas nem 20 mil para nos preocupar, temos oportunidades, estamos crescendo, temos oportunidades de exportação… Então o foco principal nosso é que cada cliente que tenha experiência Nissan fique completamente satisfeito.

Falando no momento, como o senhor vê o cenário atual no Brasil?

Nunca vi uma crise como essa que o Brasil está passando. Mas dá para resolver. A Rússia está passando neste momento por algo similar ao que acontece aqui, só que lá é uma economia dolarizada, então existe a redução do volume, mas tem o aumento dos preços e a conta fecha. Aqui, o que acontece? A demanda está abaixando, os custos estão subindo e os preços estão estáveis. Isso coloca uma pressão muito grande na cadeia interna. É uma fórmula perigosa. Dá para resolver? Obviamente. O Brasil tem um potencial de crescimento de veículos espetacular. Se a gente analisa a indústria brasileira, voltando até os anos de 1960, você vê que a curva é diferente do mundo todo. Mesmo nas épocas de tranquilidade financeira, nós temos esses picos. O que eu nunca tinha visto era um declínio tão acentuado e tão rápido. É uma queda que nós não estávamos prevendo, que ninguém estava prevendo. Nossa posição é muito simples: nós não temos pressa, nós estamos estabelecendo os nossos processos, estamos fortalecendo a nossa rede para que quando o mercado subir de novo a gente esteja mais na mente, na tela do radar do brasileiro para desfrutarmos desse momento. É uma coisa bem gradual, sem loucuras. Não tem mágica, não tem milagre. Qual é o nosso objetivo? Estar entre as três marcas em termos de qualidade no Brasil e nós já estamos.

Mas como fica a situação em relação à exportação com o dólar nas alturas?

Nós temos para quem exportar (mesmo com um cenário de dólar em alta). Provavelmente na América Latina. A Nissan tem o objetivo de estar entre as três primeiras da América Latina. É uma das marcas que mais estão crescendo na região. Há um foco muito grande em ativar a marca aqui. E temos certeza de que, com o trabalho que está sendo feito, com a qualidade, com o portfólio, nós vamos chegar lá. E o Brasil vai contribuir com isso. Estamos vivendo um momento muito bom na América do Norte – a Nissan é uma das marcas que mais crescem nos EUA – e agora temos uma base para atender a América Latina.

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