O carro novo e a praga da empurroterapia

16/06/2017 às 21:12.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:07

Essa é a história de vários consumidores que, passada a euforia pela compra do carro novo (ou ainda por causa dela), resolvem seguir à risca a cartilha da montadora para a garantia do veículo. O primeiro passo é, normalmente, retornar à concessionária para a revisão dos 10 mil quilômetros. Não raro, elas acabam bombardeadas por um orçamento muito acima do que imaginavam, especialmente considerando que é apenas o início da vida útil dos componentes. E o que deveria custar, no máximo, poucas centenas de reais, acaba na casa do milhar, por mais que o comportamento do proprietário ao volante tenha sido digno de elogio, com todos os cuidados e precauções possíveis.

Longe de generalizar, mas existe no mercado verde e amarelo a cultura do ganho constante, das metas a bater, da tentativa de recuperar, de forma indireta, eventuais descontos e promoções quando do momento da compra. E tanto mais funciona quanto maior é o grau de desinformação do consumidor, ou sua confiança na palavra, digamos assim, “oficial”. “Ah, mas se é a fábrica que diz que eu tenho que trocar a peça X, completar o fluido Y, quem sou eu para discordar”.

Pois saiba, amigo leitor, que os motores mais modernos são projetados para enfrentar, no mínimo, 250 mil quilômetros de uso intenso – o que não quer dizer que, ao longo dessa vida útil, muita coisa não tenha que ser trocada ou reposta. Como é possível que, pela ação de fatores externos, a falta de cuidado ou mesmo o azar de ter sido “premiado” com um componente defeituoso, a necessidade de reparos e manutenção ocorra antes do que se espera.

Mas, definitivamente, as primeiras revisões não são o momento para isso. Sempre desconfie, no primeiro retorno à oficina autorizada, de qualquer coisa que vá além da troca de óleo e do filtro do lubrificante. Pastilhas e tambores de freio, fluidos, óleos da transmissão automática e da direção hidráulica duram muito mais do que os fatídicos 10 mil quilômetros. O restante então, nem se fala. E ainda por cima, tem gente que prefere impedir que o proprietário acompanhe o serviço, constate visualmente a necessidade de alguma troca de peça ou reposição de fluido.

Sem a necessidade de ser especialista em mecânica ou amante de automóveis, e no melhor estilo dos adolescentes de agora, #FicaaDica: fuja de todo e qualquer aditivo; tratamento “milagroso” para proteger a pintura ou substância que prometa melhorar o desempenho. O carro deixa a linha de montagem nas condições ideais de uso e a primeira visita à concessionária deve ser sinônimo apenas de constatar, visualmente ou com os modernos equipamentos de diagnóstico eletrônico, que tudo vai bem. Um reaperto ou outro, óleo e filtro, e só. O resto, em 99% dos casos, é empurroterapia barata.

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