O desafio em uma nova era para a Igreja Católica

Hoje em Dia
23/12/2013 às 07:33.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:58

Minas é o coração católico do Brasil. Não por número, mas pelo enraizamento, pelos traços da cultura mineira. É o que afirma dom Walmor Oliveira de Azevedo, um baiano de Cocos que, em janeiro, completa dez anos no cargo de arcebispo metropolitano de Belo Horizonte. Em entrevista publicada hoje, ele aponta como primeiro desafio da Igreja, nesses tempos de papa Francisco, “a exigência de efetivarmos mais a nossa opção preferencial pelos pobres”.

Possivelmente, é um desafio para o próprio arcebispo, que tem uma história de ligação com a ala conservadora da Igreja Católica no Brasil. Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, dom Walmor foi nomeado em agosto de 2009, pelo papa Bento XVI, outro conservador, para a Congregação para a Doutrina da Fé, uma das mais importantes congregações do Vaticano. Antes, por oito anos, a partir de 2003, ele presidiu a Comissão para a Doutrina da Fé da CNBB. Nesse período, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil estava sob o controle dos bispos conservadores.

Na entrevista, dom Walmor cita um ex-presidente da CNBB – o então arcebispo de Mariana, dom Luciano Mendes de Almeida – que tentou conduzir a entidade no caminho dessa opção preferencial, apesar das grandes resistências. Essa doutrina nasceu no Concílio Vaticano II, presidido pelo papa João XXIII, mas ficou em segundo plano nos reinados de João Paulo II e Bento XVI.

A capacidade da igreja de alterar seus rumos é um dos segredos de sua perenidade. A eleição do papa Francisco fechou um ciclo importante na história da Igreja, diz dom Walmor. E prossegue: “Agora, ele está abrindo e marcando um novo ciclo. Não sem desafios ou resistência. Mas, de maneira leve e alegre, estamos todos empenhados em voltar, cada vez mais, às raízes do evangelho. Esse novo ciclo significa mudanças, novas respostas, mais coragem e disponibilidade. Mas é um momento de grande esperança”.

A frase “Minas é o coração católico do Brasil” foi ouvida de dom Luciano. “Ele falou isso comigo logo que cheguei”, diz dom Walmor, que começou como seminarista em Juiz de Fora, em 1970, no Seminário Arquidiocesano Santo Antônio. Na mesma cidade, se ordenou padre em 1977. E no mesmo seminário, foi reitor por oito anos, até ser sagrado, em janeiro de 1998, bispo auxiliar de Salvador, na Bahia, por um arcebispo nascido em São João del-Rei: dom Lucas Moreira Neves, primo de Tancredo Neves.

São extensas, portanto, as ligações de dom Walmor com Minas. Ele faz jus ao título de Cidadão Honorário que recebeu em 2009. E o fará ainda mais, quando sua igreja vencer o desafio da opção preferencial pelos pobres e, sobretudo, tiver êxito na busca de salvação para todos. Que não se consegue passando por cima dos outros, “mas com diálogo, misericórdia, compreensão”.

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