O dilema da Cemig, parte 3

25/07/2016 às 19:47.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:00

Vamos à última coluna sobre a possível venda de ativos da Cemig, de uma série de três iniciada na última sexta-feira (os anteriores podem ser lidos no portal do Hoje em Dia, clicando em ‘Opinião’ e depois em ‘Colunas’). Nos dois primeiros artigos, abordei o risco da empresa perder a concessão de três importantes usinas, a necessidade de investimentos para repor a capacidade de geração que poderá ser perdida e a atual situação financeira da companhia, que não é das melhores. Para fazer caixa, a alternativa seria a venda de ativos não estratégicos e fora da atividade principal. Vamos, então, avaliar o que pode ser vendido e dentro de qual estratégia.

Vamos, primeiro, a quatro pontos importantes que apurei junto a uma fonte interna de alto escalão da Cemig.

1 - A empresa está, de fato, reavaliando seu portfólio de subsidiárias, controladas e participações. O objetivo é focar a empresa em sua atividade principal (core business) de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica.

2 – Nessa reavaliação, participações minoritárias, que não asseguram à Cemig ingerência na gestão, também serão consideradas ‘não estratégicas’, mesmo que façam parte do core. Assim como empresas com resultado inferior ao esperado. E, ainda, os projetos em andamento que demandem grandes investimentos e não estejam gerando caixa.

3 – O plano de desinvestimento não será feito atabalhoadamente. Não existe urgência. O previsto é uma redução gradual da dívida dentro de um horizonte de quatro a cinco anos, garantindo tempo para se encontrar preços justos para os ativos.

4 - Para futuros investimentos, serão priorizados ativos que já estejam operando, gerando caixa e que se paguem.

Então, se a empresa pretende de fato vender ativos fora do negócio principal e participações minoritárias, quais seriam estes? O levantamento, mesmo que hipotético, é dificílimo. Para cada ativo que a Cemig adquire ou investe com participação de terceiros ela abre uma nova pessoa jurídica. Desta forma, no seu organograma constam 50 empresas de geração, 22 de transmissão, 35 holdings de gestão de negócios diversos, além de empresas de geração eólica, de comercialização, de serviços em energia, consórcios de geração e outros.

O plano de venda de ativos não será tocado atabalhoadamente.Não existe urgência.

Mas, vamos ao mais óbvio. Se a Cemig pretende se desfazer de ativos para abater dívida, que hoje está em R$ 11,9 bilhões (líquida), precisará se desfazer de empresas de grande valor. Se hoje a dívida da empresa é 4,4 vezes maior que a geração de caixa (Ebitda), e se o estatuto da empresa coloca um teto de alavancagem de 2,5 vezes, então a empresa precisaria de R$ 5,1 bilhões adicionais para abater dívidas. Logicamente não estou levando em consideração a capacidade da empresa de pagar dívida com a própria geração de caixa, mas o número acima dá uma indicação do tamanho do esforço que precisará ser feito.

Temos, então, na linha de tiro para venda, em primeiro lugar, as empresas que estão fora do core. São elas a Gasmig (distribuição de gás canalizado em Minas Gerais), a CemigTelecon (de transmissão de dados com atuação em Minas, Bahia, Ceará, Goiás e Pernambuco), a Efficientia (empresa que presta serviço de racionalização do uso de energia para grandes consumidores), a Ativas (data center), e a Axxiom (que fornece sistemas técnicos e de gestão para empresas de energia).

Em seguida, temos as participações nos consórcios das gigantes hidrelétricas de Belo Monte (Pará) e Santo Antônio (Rondônia), nas quais a Cemig possui participação minoritária e não tem poder de ingerência na gestão.

Já a participação na Light (26,1%), a centenária empresa de energia do Rio de Janeiro, embora não majoritária garante à Cemig participação no grupo de controle. É, portanto, um híbrido entre o que a Cemig definiu como critério para o que deve ser vendido (minoritário) e não deve (participação na gestão).
Já a participação na empresa de transmissão Taesa (43,4%), um excelente ativo, muito cobiçado pelo mercado, poderia ter parte vendida, mas sem perda do controle.

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